Se todos fossem iguais a você...
Homenagem do Vanderlei Lourenço, poeta
alvinopolense.
Algumas pessoas são grandes sem que precisem, para isso, fazer qualquer
esforço. Apenas o são, porque essa é a sua natureza. Zé Afrânio era
assim. Lembro-me da primeira vez em que nos falamos. Eu, um menino de
quinze anos, vindo da roça para tentar a vida em BH. Ele, um homem
vivido, com vários livros publicados e um grande respeito na imprensa
mineira. Tímido, mostrei os meus escritos e disse que os publicaria,
recebendo dele todo o apoio. Esse é o principal acontecimento a me falar
de sua grandeza, pois, hoje, tenho noção de quão frágeis eram aqueles
primeiros poemas. Outra pessoa, um crítico, talvez me orientasse a
esperar. Zé Afrânio, não. Leu, comentou, sugeriu alterações e, quando o
livro foi publicado, escreveu uma resenha no "Estado de Minas" saudando
a minha estréia e afirmando que eu era uma promessa literária. Ai está
sua grandeza: ressaltar as qualidades, ao invés de salientar os
defeitos. Foi assim que, desde então, passou a ser uma referência para
mim, como o foi para diversos escritores e poetas, alvinopolenses,
mineiros e de diversas partes do Brasil. Quando publiquei o segundo
trabalho, lá estava ele nas páginas do "Estado de Minas", saudando a
"bela promessa que se cumpriu". Como era generoso!
Alvinópolis tem muito do que se orgulhar em relação ao Zé Afrânio.
Porque, se alguém amou verdadeiramente Alvinópolis, esse alguém foi ele.
Não perdia oportunidade de falar da terra, de ressaltar seus valores e
de ressaltar a sensibilidade artística de seus filhos. Em toda a sua
vida, honrou a cidade, levando o seu nome e nunca o associando a
qualquer coisa de menos nobre. Pelo contrário. Não havia quem o
conhecesse e não soubesse de suas raízes, pois fazia questão de
informá-las. Mais uma maneira de medir sua grandeza.
A outra maneira de medir sua grandeza, ah, essa é óbvia pois ele a
deixou expressa nas páginas de "Tempo de narciso", de "A muralha de
vidro", "Fernando Pessoa e os caminhos da solidão", "Opinião literária",
"Panorama da literatura Alvinopolense" e tantos outros títulos que a
mente emocionada não me permite lembrar assim.
Por isso a literatura alvinopolense está de luto. A literatura de Minas
está de luto. Estamos todos de luto.
Hoje, mais do que nunca, faz sentido o verso do poetinha Vinícius:
- Ah,
se todos fossem iguais a você..."