Homenagem José Afrânio Moreira Duarte

 

Há alguns dias faleceu o maior expoente da literatura de Alvinópolis.

Por ter nascido nos anos 70, mesmo época do livro Alvinópolis e Literatura,  que ganhei  uma certa ocasião da tia Alina, não tinha muitos conhecimentos sobre a dimensão do trabalho de José Afrânio Moreira Duarte, alvinopolense de alma.

Chegando em casa resolvi procurar o livro.

Aproveitei para dar uma geral nos livros da minha casa e encontrei o presente.

No prefácio do livro,  uma apresentação sobre Alvinópolis,  mostrando  para todos a visão do poeta sobre a nossa cidade. Informação e paixão pura.

Além disso, pensei em pesquisar sobre o Zé Afrânio na internet.

Fiz uma breve pesquisa no Google e acrescentei no artigo.

Vejam abaixo os resultados.

Fiquei orgulhoso de ser alvinopolense.

Essa pequena homenagem é um gesto de agradecimento a quem fez tanto pela cultura da nossa terra.

Saudações, Gjunior.

 

José Afrânio Moreira Duarte: “Tempo de Narciso” Fonte : http://www.cultura.mg.gov.b

Imortal da Academia Mineira de Letras, José Afrânio Moreira Duarte nasceu em Alvinópolis, Minas Gerais, em 8 de maio de 1931, mas vive em Belo Horizonte desde 5 de fevereiro de 1955, onde bacharelou-se em Direito pela UFMG. Foi duas vezes condecorado pelo Governo de Minas Gerais, com a Medalha da Inconfidência e a Medalha do Centenário de Belo Horizonte.

Conhecido de todos os escritores de Minas Gerais e do Brasil, José Afrânio Moreira Duarte é contista, ensaísta, crítico literário, entrevistador e poeta. Publicou os contos “O Menino do Parque”, “A Muralha de Vidro” e “Azul: Estranhos Caminhos” e os ensaios “Fernando Pessoa e os Caminhos da Solidão” e “Henriqueta Lisboa: Poesia Plena”. 

“Tempo de Narciso”, único livro de poesia de José Afrânio Moreira Duarte, será homenageado em voz alta por Paulo Fernandes nesta edição do Terças Poéticas.

 

 Perfil Academia Mineira de Letras

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Alvinópolis e Literatura

Antologia

 

 

 Na foto, Roberto Drumond,Dora Tavares, Duílio Gomes e José Afrânio Moreira Duarte

 

 

José Afrânio Moreira Duarte

 

Uma apresentação   

 

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ALVINÓPOLIS

 

            Na sua obra “Viagens através do Brasil”, destinada a crianças, no volume em que focaliza Minas Gerais, descrevendo curta viagem de avião de Ponte Nova a João Monlevade, Ariosto Espinheira diz: “Lá em baixo estava a pequenina Alvinópolis, parecendo três cidadezinhas de brinquedo”. Realmente, esta é a impressão que a localidade, perdida entre montanhas verdejantes, dá, numa visão aérea, com seus bairros ligeiramente distanciados, ligados por pequenos caminhos.

            Até hoje não apareceu quem se dispusesse a escrever a História de Alvinópolis, tarefa difícil, uma vez que praticamente todos os dados teriam de ser coletados, ainda, o que só se tornaria possível fazendo-se pesquisas em arquivos de Mariana e Santa Bárbara, municípios a que a cidade um dia pertenceu, mas principalmente em Mariana, sede da Arquidiocese que abrangia a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Alvinópolis,  até há pouco tempo, quando ela passou a pertencer à Diocese de Itabira. Enquanto o livro não aparece, a fim de dar, em linhas breves, uma idéia de Alvinópolis, antiga Paulo Moreira, em seus primórdios, reporto-me ao trabalho intitulado “Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana”, do Cônego Raimundo Trindade, onde se lê :

            “Paulo Moreira – Capela erigida na Fazendo do Rio do Peixe, com a invocação de Nossa Senhora do Rosário, pelo Capitão Paulo Moreira da Silva, em provisão de 20-07-1754.

            Em 1801, o Alferes Manuel José Ferreira, novo proprietário de terras dentro das quais se levantara a capela – por esse tempo ameaçada de interdição, por lhe haverem usurpado o patrimônio – lho constituiu formalmente por escritura de 2 de novembro. Essa doação foi ratificada pelo seu herdeiro José Pinto Ferreira, em 29 de julho de 1824.

            Essa capela era filiada ao Inficcionado. O Capitão Paulo Moreira teve na fundação da capela um sócio – O Capitão Manoel Antônio Rodrigues.

            Freguesia desmembrada do Inficcionado de São Caetano de Barra Longa pelo decreto de 14 de julho de 1832.

            Foi instituída canonicamente a 29 de julho de 1833, tendo por vigário encomendado o Padre Antônio de Abreu e Silva. Vigários colados : Caetano Rodrigues Milagres, transferido pelo mesmo decreto, apresentado por C. P. de 20 de agosto de 1836, colado a 5 de dezembro do mesmo ano; Joaquim Teodoro de Oliveira,

apresentado por C. I. de 29 de março de 1842 e colado no mesmo  ano, a 17 de novembro.”

            É preciso mencionar, ainda, o livro “Minas Gerais de 1925”, trabalho de equipe, coordenado por Victor Silveira, lançamento da Imprensa Oficial de Minas em 1926, um retrato vivo do Estado ao findar o primeiro quartel do século, sendo a obra fartamente ilustrada, valorizada por fotografias numerosas. Constam informes minuciosos sobre todas as comunas mineiras de então. No que se refere a Alvinópolis, podem ser transcritos alguns trechos :

            “Data de 1730 a entrada das primeiras famílias para aqui e só em 1832 foi criada a freguesia de “Paulo Moreira”, por decreto imperial. Até então, a freguesia de Santa Bárbara compreendia toda essa zona e grande parte da faixa apertada entre os Rios Doce e Piracicaba.

            Por essa época, já havia falecido o fazendeiro Paulo Moreira, que legou em seu inventário terreno suficiente para o logradouro público e patrimônio da freguesia, que recebeu seu nome. Daí o nome de Paulo Moreira, conservado até 1901, quando, pelo Decreto Estadual número 365,  de 5 de fevereiro, foi criado este município com a denominação de Alvinópolis, homenagem ao Dr. Cesário Alvim, que, na qualidade de Presidente de Minas, assinou o decreto da emancipação da vila.

            Pela Lei número 23, de 24 de maio de 1892, foi a Vila elevada à categoria de cidade. Por ocasião da criação da Vila, foi seu território desmembrado do Município de Santa Bárbara...

            O Município está em franco progresso. As terras são férteis. Seus habitantes são, em geral, trabalhadores de índole pacífica.

            A sociedade alvinopolense destaca-se por sua delicadeza e sinceridade.”

            Seguem-se numerosos informes, agora desatualizados, e nem poderia ser de outra forma, pois o autor escrevia em 1925.

            A Alvinópolis de hoje está com 16.037 habitantes, sendo 6.844 na sede municipal. Compreende três distritos, o de Alvinópolis, o do Fonseca e o do Major Ezequiel.

            Suas principais atividades são indústria de tecidos (Companhia Fabril Mascarenhas), comércio, agricultura e pecuária.

            Após a fundação da Escola Técnica de Comércio “Professor Cândido Gomes”, em 1950, pouco a pouco, Alvinópolis se transformou-se em centro de ensino. Aquele estabelecimento cresceu, passou a Colégio Estadual, contando não só com o ensino comercial mas também com o ginasial e o normal.

            A cidade é comarca de primeira entrância, dispondo de fórum confortável e moderno.

            Pretendia escrever ainda uma espécie de reportagem curta focalizando Alvinópolis nos dias que correm, mas isso já foi feito com brilhantismo pelo Professor Tabajara Pedroso, em artigo inserido na segunda parte deste volume e o trabalho, assim, tornar-se-ia supérfluo.

Com esses informes alinhavados, espero dar ao leitor uma pequena idéia de minha terra, desde suas origens até agora, tornando-a, pois, menos desconhecida.

 

 

Esta apresentação foi transcrita do livro Alvinópolis e Literatura. Antologia.

Lançado por José Afrânio Moreira Duarte em 1973.

 

 

          

José Afrânio Moreira Duarte


 

O barranco mais fotografado do Brasil

 

Marília foi uma irmã que tive, doce e terna corno seu próprio lindo nome. Tive, não. Tenho. Não sei se realmente “as pessoas não morrem: ficam encantadas”, como disse Guimarães Rosa, mas estou certo de que elas permanecem bem vivas noutra dimensão muito superior à nossa, esperando os entes queridos que por aqui deixaram.

Cheia de amor à vida e ao próximo, Marília, desde a infância, fez de sua existência um permanente ato de doação, pensando sempre no próximo primeiro e só depois em si.

Sua diversão predileta, entre as muitas que tinha, era viajar. Conheceu quase todas as capitais brasileiras e foi também à Argentina.

Em setembro de 1992 seguiu para sua segunda viagem à Europa. Reviu a Holanda, a Itália e a França, tendo conhecido então a Áustria, a Bélgica e a Suíça.

Quando regressou, no início de novembro, ao abrir a porta do apartamento para recebê-la, surpreendi-me por achá-la triste e abatida, o que não era habitual.

Disse-lhe:

– Marília, estou estranhando. Nunca vi você assim. Queria que você chegasse com aquela alegria esfuziante, como foi da primeira vez que você voltou do Paraná.
Melancólica, ela respondeu:

– Não sei explicar, mas, mesmo na Europa, encantada com tudo que via, eu me senti muito cansada, desanimada. Talvez seja porque nós viajamos muito de trem, pensando que assim seria melhor para ter um conhecimento mais preciso dos países visitados.

Sintomas de doença acentuaram-se e o médico constatou que se tratava de leucemia, já em estado grave.

Marília foi internada no Hospital Felício Roxo, em Belo Horizonte. Embora fossem remotas as possibilidades de cura, o chefe da equipe médica falou com um dos meus irmãos:

– Se ela melhorar, aconselho levá-la a Curitiba, para um transplante de medula, pois é lá que se faz esta cirurgia melhor no Brasil.

No vigésimo sexto dia de internação, 16 de dezembro de 1992, Marília partiu para a Pátria Espiritual, suavemente, durante o sono, deixando enorme e perene saudade em todos nos.

Diariamente eu a rememoro e muitas vezes tenho a forte impressão de que ela está novamente junto a mim.

Lembro-me especialmente de sua volta da primeira viagem ao Paraná, a que se seguiram numerosas outras.

Nosso irmão Mauro trabalhou até aposentar-se como economista da Construtora Andrade Gutierrez, sediada em Belo horizonte, mas preferia trabalhar nos acampamentos, onde havia obras, tendo demorado muito a aceitar os reiterados convites para exercer sua profissão no escritório central. Numa dessas múltiplas andanças, foi parar em Salto Osório, no Estado do Paraná, quando a Andrade Gutierrez construía uma usina ali. Marília foi visitá-lo.

No dia do seu regresso, ela parecia a própria felicidade em figura de gente, irradiando alegria por quarenta léguas quadradas. Depois de dar notícias dos parentes queridos – irmão, cunhada e sobrinhos, estes naquele tempo ainda meninos – ela falou longamente sobre o passeio, dizendo-me:

– Você precisa conhecer o Estado do Paraná, é simplesmente maravilhoso. Quem nunca foi lá, não sabe o que está perdendo. Já conheço a maioria das capitais brasileiras e posso dizer que Curitiba está entre as melhores e mais lindas. A cidade é muito boa, mesmo, impressionado desde logo por sua extraordinária limpeza, por muitas ruas floridas e também pelo trânsito bem organizado que pode e deve servir de modelo para os outros grandes centros do país. Poucas vezes vi tanta gente bonita quanto em Curitiba.

Gostei tanto de lá que, em vez de ir logo para Salto Osório, resolvi ficar uns dias conhecendo melhor a bela capital paranaense. Curitiba tem um encanto de parque onde é uma delícia passear e permanecer. Não me lembro bem do nome, mas acho que se chama Passeio Público.

O teatro Guaíra é um primor. Ele está para Curitiba assim como o Palácio das Artes está para Belo Horizonte, é onde são levados os melhores espetáculos. Adorei-o.

E em Curitiba há um bairro simpático, chamado Santa Felicidade, onde cantinas acolhedoras servem excelentes massas italianas, acompanhadas de deliciosos vinhos.

Fiz também um passeio fora da capital, indo a Vila Velha, onde, através dos séculos, a natureza parece haver feito esculturas fascinantes nas pedras, principalmente uma no formato de um cálice.

No último dia eu iria viajar para Salto Osório, finalmente, mas só à noite. Como já tinha visto tudo que queria ver em Curitiba, fiz uma viagem rápida de trem-de-ferro, de Curitiba a Paranaguá. As paisagens se sucediam, encantadoras.

Houve uma hora em que o simpático jovem guia da empresa turística em que me inscrevi disse em alto e bom som:

– Preparem-se para ver o Véu da Noiva e, pouco depois, o barranco mais fotografado do Brasil.

Impressionei-me bem com o Véu da Noiva, uma bela queda d’água, mas, curiosa, perguntei ao guia que história era aquela de o barranco mais fotografado do Brasil, coisa que não entendi.
Sorridente, o mocinho explicou:

– É muito simples. Como você vê, o trem hoje está cheio e todos os dias é assim. Quando faço aquele aviso a que você se refere, os turistas preparam as máquinas para tirar o retrato do Véu da Noiva, mas, como o trem é muito veloz, não dá tempo e então eles fotografam mesmo é o barranco que aparece logo a seguir. É por isso que eu afirmo, sem medo de errar, ser ele o barranco mais fotografado do Brasil...
 

 

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