Atenção a detalhes é
um exercício contínuo
EMPRESAS SEMPRE TÊM UMA
PEGADINHA NA HORA DE UMA entrevista de emprego. Mas
algumas dessas pegadinhas são muito criativas.
Por exemplo, em qualquer
empresa é muito importante dar atenção aos detalhes. Uma
regra básica diz que os funcionários capazes de perceber
pequenos detalhes, que os outros não percebem, irão ter
um desempenho melhor.
O problema é que se o
entrevistador perguntar para o candidato se ele é atento
aos detalhes, o candidato vai responder que sim, claro.
E, para impressionar, o candidato ainda vai citar
Einstein, que disse que Deus está nos detalhes. Mas há
uma empresa que transformou a pergunta numa pegadinha
interessante. O candidato aguarda a entrevista numa
salinha de espera. Depois, é conduzido para a sala do
entrevistador. E aí o entrevistador pede que o candidato
descreva os detalhes da salinha de espera.
Alguns candidatos mal
conseguem se lembrar da cor da parede, ou dizer quais
revistas estavam sobre a mesa.
Já outros se lembram de
tudo, até que a salinha tinha um cinzeiro, embora na
parede estivesse pregado um aviso de proibido fumar.
Num mundo em que as
informações estão rapidamente disponíveis para todos os
concorrentes, leva vantagem quem vê primeiro o que os
demais só vão enxergar depois.
Atenção a detalhes é uma
questão de curiosidade e de treino. Perceber detalhes
significa manter o cérebro trabalhando o tempo todo, sem
se concentrar em um único ponto. A maioria dos detalhes
talvez nem tenha importância, mas só percebe isso quem
tem uma visão periférica. Não por acaso, presidentes de
empresas são pessoas que têm, entre outras habilidades,
uma incrível percepção para detalhes. Por isso, além de
dar respostas corretas, eles também fazem perguntas
inesperadas. Uma gente diferente, que chegou aonde
chegou porque, ao contrário da maioria, consegue
perceber um universo em cada migalha. Uma sinfonia em
cada ruído. E uma eternidade em cada instante perdido.
Linguagem corporal
versus autenticidade
EM ENTREVISTAS, UM FATOR
MUITO IMPORTANTE É O QUE SE CHAMA de gestual do
candidato. Como ele senta, onde põe as mãos, se apóia os
cotovelos na mesa, se cruza as pernas, se cobre a boca
com a mão quando fala... bom, a Lista é enorme.
E entrevistadores
profissionais estão sempre muito atentos a essa coleção
de pequenos gestos, que dizem muito sobre um candidato
antes mesmo
que ele comece a abrir a
boca e a falar. Pelo menos uma dúzia de vezes na vida,
eu entrevistei pessoas que me impressionaram
profundamente. Para começar, elas entravam na sala com o
que chamamos de postura vencedora. O corpo reto, a
cabeça erguida, os passos firmes.
Em seguida, apertavam
minha mão com confiança.
E sentavam-se com a coluna
reta, sem se esparramar na cadeira ou se curvar sobre a
mesa. Depois, durante a entrevista, a pessoa adotava o
método do contato visual contínuo e prolongado. Quer
dizer, ela me encarava o tempo todo. Jamais olhava para
o chão ou para o teto. E, principalmente, a pessoa
mantinha as mãos sob controle, sem ficar recolhendo os
clipes que estavam espalhados sobre a minha mesa.
E cada frase dita era
acompanhada de um gesto adequado, sem economias nem
exageros. Assim que a entrevista terminava e a pessoa
saía da sala, eu dizia Uau! E,imediatamente, jogava seu
currículo no lixo.
Porque eu ficava pensando
que, se essa pessoa for mesmo assim, não vou gostar nem
um pouco de trabalhar com ela. E, se ela só estiver
encenando, vou gostar menos ainda. Mais tarde, ao
conversar com meus colegas que também entrevistaram
aquela pessoa, nós concordávamos que os Manuais de Como
Se Comportar Adequadamente em Uma Entrevista ensinam
tudo
menos as duas coisinhas
que mais queremos em alguém com quem vamos ter que
conviver dez horas por dia.
Sinceridade e
Autenticidade.
Uma reprovação é uma
nova oportunidade
UMA PALAVRINHA QUE JÁ ME
INCOMODOU MUITO, E QUE AINDA incomoda muita gente, é
reprovação.
Aliás, não só incomoda,
como causa danos enormes ao ego. Porque, nesta vida, na
média, todos nós somos mais reprovados do que aprovados.
E cada reprovação faz com que aquela confiança que temos
em nós mesmos encolha mais um pouquinho. Ser reprovado
na escola é uma vergonha. Ser reprovado num exame de
motorista é uma humilhação. E ser reprovado numa
entrevista de seleção é uma frustração sem tamanho.
Para minha sorte, eu fui
reprovado logo na minha primeira tentativa de conseguir
um emprego.
Eu tinha 15 anos e me
apresentei junto com outros vinte e tantos candidatos
para uma vaga numa fábrica de sapatos. Ensaiei
direitinho tudo o que tinha que falar para convencer o
entrevistador de que eu era o candidato ideal. E até
bolei uma frase que, na época, me pareceu genial: meu
sonho sempre foi trabalhar aqui, porque esta empresa
produz o sapato que vai me conduzir pela estrada do
sucesso.
Mas eu nem cheguei a ser
entrevistado, porque fui reprovado antes, no teste
numérico. Graças ao meu nervosismo, demorei demais para
completar quatro continhas de multiplicação e fui
expurgado do processo.
Eu disse que essa tinha
sido a minha sorte? Disse.
Porque, quando eu já ia
saindo, cabisbaixo e achando que nunca mais iria
conseguir um emprego na vida, o gerente de recrutamento
veio conversar comigo e me explicou que reprovação não
era bem o que eu pensava que era. A palavra reprovação,
ele me disse, não significava eliminação. Significa, em
bom latim, provar novamente.
E aí ele me disse uma
frase que me acompanhou pelo resto de minha
carreira.
Uma reprovação não é o
fim. É só um novo começo.
Hoje, ele me disse, você
não provou que é ruim.
Você ganhou uma nova
chance de provar que é bom.