SE VOCÊ ACABA DE SER CONTRATADO
POR UMA DAQUELAS EMPRESAS que têm muitos funcionários,
deve estar encontrando alguma dificuldade para saber
quem é quem. Porque, hoje em dia, todo mundo se veste
mais ou menos do mesmo jeito - isto é, do mesmo jeito
que o diretor se veste. Então, para saber quais são as
pessoas que podem vir a ser importantes para seu futuro,
aqui vai uma dica. Preste atenção no que as pessoas
trazem nas mãos quando estão caminhando pelo escritório.
Quanto mais coisas uma pessoa levar nas mãos, menor é o
nível hierárquico dela. Se a pessoa estiver segurando
uma folha de papel, ela certamente é mais importante do
que alguém que esteja carregando um monte de
folhas de papel. E infinitamente
mais importante do que alguém que esteja carregando um
monte de envelopes. E se a pessoa estiver carregando um
papelzinho bem pequeno? Aí, é preciso aumentar o número
de observações para chegar a uma conclusão. Se a pessoa
sempre carrega um papelzinho toda vez que é vista, é um
assistente que está levando um número que o diretor
pediu. Já se a pessoa é vista uma vez carregando o
papelzinho, é o diretor que não gostou do número que o
assistente levou e está indo tirar satisfações com o
gerente. E qualquer pessoa que atravesse o escritório
sem nada nas mãos é digna de ser observada mais
cuidadosamente. Veja para onde ela está se dirigindo. Se
ela entrar no banheiro, esqueça. Se ela entrar em uma
sala e sentar sem pedir licença, é um diretor. Se entrar
em uma sala e alguém que esteja sentado na cadeira
imediatamente levantar e sair correndo, aí é um vice
presidente. Ignore pessoas que andam de um lado para
outro com um celular nas mãos. São no máximo gerentes de
segunda linha. Por que, se tivessem uma posição
hierárquica melhor, teriam uma secretária para atender
as ligações.
Fábula da empresa burocrática
PARA QUEM NÃO SABE O QUE É UMA
EMPRESA ESTUPIDAMENTE burocrática, é só imaginar a
seguinte situação. Digamos que o mundo vai acabar daqui
a duas semanas, no dia 20. Uma empresa burocratizada
soltaria o seguinte comunicado. Para: todos os
colaboradores. Assunto: fim do mundo. Prezados
colaboradores. Como vem sendo amplamente divulgado, o
mundo vai acabar no próximo dia 20. Por isso, pedimos a
colaboração de todos, na observância das seguintes
medidas. Primeiro. Por liberalidade da empresa, não
haverá expediente no dia 20. Segundo. No dia 19, véspera
da catástrofe, o expediente será encerrado uma hora mais
cedo, para a dedetização trimestral de rotina de nossos
escritórios. Terceiro. Todos os documentos pendentes
devem ser empacotados e enviados ao arquivo morto.
Piadas de mau gosto sobre o arquivo morto não serão
toleradas pela Direção. Quarto. As carteirinhas do
médico devem ser devolvidas até o dia 19 ao senhor
Acácio, setor de Registros. A não devolução implicará o
cancelamento imediato das referidas carteirinhas.
Quinto. Ficam proibidas as demonstrações de paranóia
coletiva, como as registradas no dia de ontem, quando um
grupo de funcionários começou a chorar copiosamente. Se
esse fato se repetir, a Direção suspenderá o intervalo
para cafezinho. Sexto. A Direção concorda com o
argumento de que tudo neste mundo será carbonizado, mas
reserva-se o direito de manter a proibição ao tabagismo
nas dependências da empresa. Sétimo. Finalmente, no caso
de existir algum tipo de vida após a morte, todos os
funcionários devem se apresentar no estado em que
estiverem, sólido, líquido ou gasoso, para expediente
normal no dia 21. Quem faltar e não se justificar
sofrerá as punições previstas no regulamento interno.
Bom Juízo Final para todos. Atenciosamente, a Direção.
O exemplo que vem de cima
QUANDO UMA EMPRESA RESOLVE
IMPLANTAR ALGUMA MUDANÇA, normalmente ela faz uma
campanha interna para mostrar aos funcionários que a
mudança vai ser boa para a empresa e melhor ainda para
os funcionários. Na prática, porém, a maioria das
mudanças acaba dando resultados inferiores aos
esperados. Ou porque os funcionários não entenderam, ou
porque não quiseram colaborar. Então, a culpa é dos
funcionários? Eu acho que não. E vou contar uma
historinha prática. Eu trabalhei em uma empresa que
tentou, várias vezes, implantar um sistema de uso de
crachás. Mas nós, os funcionários, éramos contra. Nós
achávamos que os crachás eram desnecessários, porque ali
na empresa todo mundo conhecia todo mundo e andar com
aquela peça de plástico pendurada no peito não iria
melhorar nada para ninguém. A direção da nossa empresa
tentou de
tudo, até que chegou à famosa
solução jurássica: quem não estivesse usando crachá, não
entraria para trabalhar. Resultado: todo mundo passou a
odiar os crachás e a perdê-los de propósito. Até que um
dia eu fiquei sabendo como uma grande empresa havia
conseguido fazer com que seus funcionários usassem
crachás sem precisar fazer nenhuma campanha e sem gastar
um tostão. Foi assim. Um dia, os diretores apareceram
usando crachás. E todo mundo começou a se perguntar por
que só os diretores tinham crachá. Duas semanas depois,
os gerentes também receberam crachás e passaram a
usá-los com orgulho, porque os crachás os colocavam no
mesmo nível, por assim dizer, dos diretores. Não demorou
muito para os funcionários começarem a ficar
insatisfeitos com aquela discriminação, e aí a empresa
mandou fazer crachás para todo mundo. E todo mundo
passou a usar, feliz da vida. A lição é simples: o que
faz qualquer mudança funcionar não é a comunicação
eficiente. A comunicação ajuda, mas não resolve. O que
resolve, mesmo, é o exemplo que vem de cima.
Para que serve uma reunião
EU PERDI A CONTA DAS VEZES EM QUE
OUVI GENTE RECLAMANDO QUE reuniões não servem para nada.
Todo mundo concorda com isso, do presidente da empresa
ao auxiliar de serviços gerais. Na semana passada, eu
disparei 50 e-mails para colegas que trabalham em
empresas, perguntando como eles encaravam as reuniões.
De forma unânime, as respostas revelaram duas coisas. A
primeira, é que reunião é a forma mais utilizada pelas
empresas para desperdiçar o tempo, o conhecimento e a
energia de seus funcionários. A segunda, é que todas as
empresas que consultei continuam a fazer reuniões. Quer
dizer, há uma enorme contradição entre o que se acha e o
que se pratica. E aí fica a dúvida. Se todo mundo
concorda que reunião só atrapalha, por que ninguém
decidiu, simplesmente, acabar com elas? Porque a
alternativa para a reunião é o boato. Sem uma informação
oficial sobre o que está acontecendo na empresa, os
funcionários começam a deduzir, por conta própria, o que
poderia estar acontecendo. Por isso, é muito mais fácil
gastar um par de horas numa reunião que, aparentemente,
não serve para nada, do que gastar uma infinidade de
horas tentando desmentir rumores gerados pela
ignorância, no bom e no mau sentido da palavra. Reuniões
foram criadas, desde os tempos das cavernas, para evitar
que cada integrante de uma tribo passasse a ter idéias
próprias, independentes e contrárias à orientação dos
líderes. E essa estratégia funciona hoje. No fundo, a
reunião é a forma que as empresas encontraram para
evitar que seus funcionários, principalmente os de nível
hierárquico mais baixo, comecem a pensar por conta
própria. Em sua aparente inutilidade, a reunião evita
uma perigosa dispersão. Mas, para isso, basta só uma
reunião. É preciso haver continuidade. É por isso que o
“re” no começo da palavra “reunião”. Em latim, esse “re”
significa “novamente”. Para unificar os pensamentos, é
preciso reunir as pessoas. Ou seja, reunião gera
reunião.