Pedalando
em Paris
Bicicletas vélib
são um sucesso na Cidade Luz
Romildo Guerrante, de Paris
Elas
são um grande sucesso em Paris há quase dois anos, têm 220 mil usuários
permanentes, que pagam assinatura anual, e mais de 4,5 milhões de usuários
ocasionais por ano. Mas as bicicletas de aluguel da prefeitura de Paris estão
sendo roubadas, furtadas ou vandalizadas num ritmo tão acelerado que os
prejuízos podem vir a comprometer a idéia da agência JCDecaux
, uma das maiores da Europa, que explora o serviço da prefeitura em troca de
publicidade.
Só
no ano passado desapareceram mais de 3 mil das
20 mil bicicletas Vélib – nome que conjuga as palavras vélo (bicicleta)
com lib (de liberdade). Já foram vistas dessas bicicletas no norte da
África e na Romênia. Há pouco tempo, a polícia descobriu um contêiner com
quatro delas em Marselha, a caminho da África.
As
bicicletas, fabricadas na cidade de Águeda, em Portugal, pela empresa Órbita,
têm, segundo o fabricante, um desenho exclusivo justamente para desestimular
furtos. E portam um cadeado antifurto “indestrutível”. Pois ainda assim
continuam desaparecendo. De algumas só se acham os pedaços no fundo do Rio
Sena.
Segundo
a empresa, as despesas com reposição e consertos chegaram a 20 milhões de euros
(mais de 60 milhões de reais) em 2008, número que arrebentou com todas as
estimativas de lucro do projeto. Mas a prefeitura prometeu ajudar a
JCDecaux porque acredita que em 10 anos as bicicletas serão
capazes de tirar das ruas pelo menos 40% do tráfego de veículos particulares.
Por enquanto, ninguém sentiu a diferença. A cidade está tomada de microcarros –
que foram lançados no mercado com a proposta de resolver os problemas de
trânsito – e de motocicletas e motonetas de todos os tipos e tamanhos.
O
aluguel de bicicletas Vélib, iniciado em julho de 2007, era inovador, embora
semelhante ao implantado algum tempo antes, nos mesmos moldes e com o mesmo
tipo de bicicleta, em Lyon, terceira cidade da França. A proposta era simples:
espalhar pontos automáticos de aluguel pela cidade, de tamanhos variáveis – já
são mais de 1.500 em Paris –, de modo que os interessados pudessem liberar o
veículo com o uso de um cartão de crédito com chip ou pagando assinatura com
antecipação. Pode-se apanhar a bicicleta em um ponto e entregá-la em qualquer
outro.
Os
problemas começaram a aparecer com os usuários que não encontravam vagas nos
pontos que procuravam. E as Vélibs só podem ser deixadas no estacionamento,
porque, quando são encaixadas nos tótens plantados no piso, um equipamento
eletrônico registra sua matrícula, calculando o período utilizado. Em qualquer
outro lugar que for deixada (e elas têm um cadeado para atender a essa
hipótese), o aluguel continua correndo.
Até
meia hora de uso não se paga nada. Depois, tem uma tabela progressiva que chega
a 4 euros por três horas de uso. Quem tem contrato anual paga só 29 euros,
independentemente do tempo de uso, mas é obrigado a fazer uma caução de 150
euros. Há incremento de uso no horário comercial e na madrugada, após a
paralisação do metrô, que ocorre à 1h da manhã nos dias úteis e às 2h nos fins
de semana.
Os
turistas estão fazendo uso crescente das bicicletas, em boa parte porque a
cidade é quase totalmente plana. As instruções são muito claras, tanto nos
tótens dos estacionamentos quanto no próprio painel dos veículos. Há regras
fundamentais: circular sempre com o farol aceso e nas faixas seletivas para
ônibus, onde houver. Convivem pacificamente nessas faixas os imensos coletivos
e as frágeis bicicletas. Cada um no seu quadrado. Os índices de acidente são
baixíssimos.
A manutenção é constante,
pode-se ver diariamente, especialmente à noite, o trabalho dos funcionários da
prefeitura a conferir a pressão dos pneus, o estado da pequena bateria que
alimenta o farol e as lanternas, o sistema de freios. A população gosta do que
vê.