Alvinópolis, cidade mineira,
cercada por montanhas e vales na zona da mata, sempre teve
destaque na parte da Educação.
Nos meados dos anos 60 já contava com um curso técnico de
Contabilidade e o Magistério.
Todos os meus professores se formaram na Escola Estadual
Professor Cândido Gomes, com exceção da minha primeira
professora, a Irmã Margarida.
Em 1959 comecei minha trajetória escolar no Jardim da Infância,
que nascera da boa vontade das Irmãs de Caridade,
que chegaram em Alvinópolis para cuidar de um Convento com o
nome de Beneficência Popular.
Lembro do meu primeiro dia.
Bem cedinho, minha mãe entrou pelo quarto me sacudindo , falando
ansiosa que já era hora de ir para a escola.
Levantei meio sonolenta e até aflita vestindo minha sainha
xadrez vermelha e branca, uma blusinha branca acompanhada da
gravatinha vermelha, um Chuá!!!
Lavei meu rosto, quase esquecendo de escovar os dentes para
chegar bem depressa no "Jardim de Infância".
Nossa! "Jardim de Infância"...
Hoje estou entendendo o significado desse nome.
Pensem: As crianças eram recebidas na escola como flores,
viçosas flores!
E todos da escola eram "psicologicamente" preparados para cuidar
dessas mudinhas que estavam chegando para fazer parte de um
jardim.
Íamos para a escola felizes. Lembro que além de brincar e
estudar, ajudávamos as irmãs a cuidar da horta.
Na hora do recreio brincávamos debaixo do pé de Cipreste, que
até hoje, só de pensar sinto o cheiro das suas folhas.
Lembro que minha mãe me aprontava e me deixava na escola e eu
não chorava nem um dia, nem as outras crianças, pelo contrário,
eram só risos e pulos nos corredores do convento. Ficava
doidinha para chegar na sala de aula, desenhar, ouvir as
histórias narradas pela professora, os quebras-cabeças (feito
pelas irmãs) sentada naquelas cadeirinhas simples de palha. E a
Irmã Margarida não esquecia de rezar para o Papai do Céu nos dar
inteligência e saúde.
Hoje devido a vários movimentos sociais engajados na formulação
da nova LDBEN e do Estatuto da Criança e do Adolescente, a
creche (que atende crianças dos O aos 3 e 11 meses), a
pré-escola dos 4 aos 5 anos e 11 meses) estão incluídos na
Educação Infantil, denominação que substitui a nomenclatura
Jardim de Infância, que por sua vez está incluída na Educação
Básica. O que a Legislação pretendeu foi enfatizar que a criança
não se desenvolve naturalmente, mas precisa de uma educação com
qualidade que promova a construção de conhecimentos. Só que, na
prática, esqueceram que a criança não só aprende muito mais,
como também, a partir da imaginação que procede do brincar, se
constitui criadora de cultura. Levaram a ferro e fogo a educação
infantil a não se diferenciar dos objetivos do Ensino
Fundamental e isso é muito ruim, pois BRINCAR vem sendo
preterido por aulas, pela exigência de se alfabetizar cada vez
mais cedo.
Conversei com uma psicopedagoga e com alguns pais e o que vemos
é que as crianças estão chegando da escola irritadas,
estressadas e inseguras.
Por um lado, as escolas estão cheias de novas tecnologias, salas
de informáticas, laboratórios, até boas bibliotecas, mas estão
esquecendo que as crianças não são robot.
É por isso que lembrei com saudade da minha primeira escola, meu
querido jardim da infância, onde eu aprendi brincando, dançando,
gargalhando e minhas noites eram recheadas de sonhos
maravilhosos.
As crianças de hoje devem ter pesadelos...
Ana Mineira é alvinopolense e
escritora.
Contato :
anamagnunes@yahoo.com.br
Blog : http://anamineira.blogspot.com