TESTAMENTO

 

Getulino do Espírito Santo Maciel

 

 

 

Deixo calçadas desertas

onde tanto me sentei

esperando portas abertas...

e, portas só cerradas

sobre desertas calçadas

onde tanto me sentei

esperando para entrar

e não entrei!

 

Deixo ali deitado

meu cansaço de esperar!

 

E esquinas tortas

por onde perambulei

pisando saudades, folhas mortas

restos do que plantei.

 

E aqueles abraços fortes

com que tanto abracei

e o vazio do abraçar...

Por que tanto abracei?

Digam-me, porque não sei!

 

Deixo meus joelhos

ora, ágeis

hoje, frágeis

para mos dobrarem

porque dobrá-los

não posso mais !

 

 

 

E " Aranjuez en concierto"

dedilhando os ares

além de humanos olhares

de curta visão.

 

E " Rapsódias Húngaras"

duras, pesadas

como a tristeza das jornadas

de pés e calos ao chão.

 

E a vida vivida

aos cantos do sabiá

sob a aroeira florida

e sob o roxo manacá.

 

 E um silêncio sereno

que se fez na solidão

tal como silencia o feno

à amena viração.

 

E léguas e léguas trilhadas

sob sóis e temporais

e o pó restante das estradas

porque trilhá-las não posso mais.

 

 

Enfim, imensa gratidão

com quem reparti a vida

na alegria ou aflição

na alameda florida

ou na seca estação !

 

Prá companheira querida

Cheia de graça e amores

deixo tudo e toda vida

num só caminho de flores.

 

Getulino Maciel é professor aposentado de Direito e reside em Lorena, cidade do interior de São Paulo.

Contato : louget@uol.com.br