No período da minha infância, tínhamos em Alvinópolis
inúmeros campinhos de futebol. Tamanhos equivalentes
hoje a uma quadra de futsal, alguns um pouco maiores.
Todos eles de terra batida, sem grama. Era tanta pelada
que a grama nem tinha tempo de crescer !!!!
Campinhos da Rua Nova, Praia do Urubú, Beira Tanque,
Rua de Cima, campinho do Monte, campinho do Souza,
atrás do campo do Industrial, atrás do campo do
Alvinopolense, Pinga Rato, no meio da praça da Baixada.
E todos com uma frequência enorme.
Também, quase ninguém tinha televisão em casa!!!
O que vou narrar é um jogo histórico, entre o time da
rua nova, que tinha em Nivota o seu craque, contra o
time da baixada, que contava com o magistral Cosme.
Prova do talento deles é que ambos são conhecidíssimos
na nossa região, como dois estupendos centroavantes.
Vamos lá. O jogo foi num domingo de manhã.
No sábado, fomos à Serraria do sr. Lauro, buscamos
serragem e alinhamos o campo. Pusemos bambu novo nas
traves e, suprema felicidade, ia ter inauguração de
bola. Bola nova, de capota, trem chique !!!!
Bené Mosquito, que era trocador do ônibus, comprava prá
nós, na rua Caetés, em Belo Horizonte.
E o dinheiro? Fácil !!!! A turma juntava cobre, ferro
velho, tubo de creme dental ( era de alumínio) e vendia
pra “seu “ Teco Carvalho, comprador dessas bugigangas!
Outra renda vinha do ilícito !!!! A gente roubava ovo
nos quintais da rua e os vendia. Às vezes pro mesmo dono
da casa onde houve o delito!
Vamos pro jogo !!! Aliás, pra véspera do jogo ! Depois
de batermos uma peladinha e alinharmos o campo (nessa
ordem, depois do campo alinhado, ninguém podia jogar),
fomos pra casa.
Mais tarde, Nivota me chama e avisa:
- Vai dormir cedo, que amanhã você vai ser titular!!
Joélcio tá com um furúnculo na bunda e não vai poder
jogar!! Você vai marcar Cosme!!
Meu Deus do céu!!
Toda vida eu fui cascudo. E dos ruins!!
Jogar de titular, no domingo, jogo 'oficial' e ainda
marcar Cosme?
Passei a noite em claro.
Chegou o domingo, campo cheio!
É dada a saída.
Bola pra lá, bola pra cá, rua Nova uma a zero.
Gol de Afonso! Nosso Dadá Maravilha...
Bola pra Cosme... eu chegava junto e enfiava o pé na
bola pra onde o nariz apontava. Ordens de Nivota!
Jogo vai, jogo vem, gol do time da baixada.... Quem
fez?
Precisa perguntar? Claro que foi Cosme!
Continua o jogo... Nivota chuta.
A bola bate na trave do time da baixada....
Bate na trave e entra.
Ou não entrou?
Naquela época a FIFA ainda não havia liberado a bola com
chip !
Foi gol, não foi, foi gol... Saiu uma pancadaria...
Pescoção pra todo lado, neguinho arrancando as traves de
bambu pra sentar na orelha do outro !!! Tempo quente!
O time da baixada vazou, debaixo de bambuzadas e
pedradas desferidas por todos nós!
À noite, o pessoal da baixada veio, as escondidas ,e
encheu o campo da rua nova de
cacos de garrafas! Os vidros já vieram quebrados de
casa, foi só jogar no campinho e
correr!
Assim foi feito!
A nossa turma ficou sabendo do ocorrido e cismou de
invadir a Baixada, na mesma noite.
Juntamos a turma da rua nova, a turma do Gaspar e a
turma do bairro do Asilo e fomos
pra invasão da praça da Baixada.
Gritos de guerra eram ecoados:
- Rua Nova!!! tum dum dum!! Rua nova!!! Tum dum dum.
Invadimos a baixada.... Sem resistência...
Todos os meninos que invadiram o campinho já estavam
abrigados em suas casas.
Voltamos..
- Rua Nova!!! tum dum dum!! Rua nova!!! Tum dum dum.
Canelinha á frente , comandando a massa !
Eis que, numa casa defronte ao hoje colégio Prof.
Cândido Gomes, abre-se uma janela e
uma grande quantidade de líquido é jogada no nosso amigo
Canelinha!
- Fedaputa, me jogaram água !
E, verificando melhor:
-
É mijo!
Bons tempos !