NOITES FELIZES
Maria de Lourdes Camelo
Ela me chama, lá de dentro, e
eu entro, emocionada. Piso de leve o assoalho branco, sem
olhar para os cômodos, conforme aprendi. Chego à sala de
jantar transformada em presépio. O mesmo ar adocicado e o
tilintar dos sininhos prometem beleza. Da cozinha, um cheiro
sedutor de doces. Ela me espera, sorridente, adivinhando
felicidade.
Mamãe diz sempre: "não vá
todos os dias, você pode incomodá-la".
Mas pede o impossível. Meu
olhar tímido percorre, curioso, os prados tremulantes, as
gotinhas de orvalho, as vilas coloridas, o rebanho que
pasta, tranquilo, a cadência dos monjolos, os patinhos na
imensa lagoa e, os Três Reis, presenteadores.
No centro a Manjedoura. Ele
está lá. Delicado e meigo me aguarda. Beijo seus pés,
fechando os olhos. Maria e José velam. Intimamente, canto
“Noite Feliz”.
A grande árvore, à direita,
enche meus olhos de brilho. É muito para minha pequena alma.
"Tome um doce", ela diz,
estendendo-me um pratinho.
Discretamente, acaricio os
sinos, as bolas coloridas e os laços de cetim. Ainda
percorro a longa estrada branca que conduz ao Redentor,
recém-nascido.
Mamãe me busca todas as
noites e, como eu, também contempla, extasiada.
Dona Eponina não podia
imaginar que, cinquenta anos depois, eu voltaria para
visitá-la.
Espere, parece que ouço
novamente uma voz, lá de dentro, "entre, pode entrar, venha
ver".
Volto à minha solidão e tento
fazer desta noite vazia uma noite feliz.
Dedico este texto à Família
Machado, com gratidão e amizade, e aos meus conterrâneos,
com votos de Feliz Natal.
Maria de Lourdes Camelo é alvinopolense e reside
em Lorena-SP
E-mail: louget@uol.com.br