Fragmentos do espelho mágico da memória
Magda Lúcia
Rodrigues
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Sr. Jayme de
Vasconcelos, o "Homem do eterno terno", segundo o poeta
Ilderaldo Francisco Ferreira.
Foto: Mauro
Sérvulo. |
Quando estudava na antiga Escola de Comércio Cândido
Gomes, em Alvinópolis (MG), ficava extasiada com os
ensinamentos do Professor Jayme de Vasconcellos Barcelos sobre quaisquer
temas de literatura. Quando era sobre gramática, dava um jeitinho de ler um
texto de alguma obra, que sempre trazia entre as páginas do caderno de
anotações. Achava que estaria engabelando o mestre, até que, certa vez, ele me
chamou para uma conversa amiga e disse-me: “você é uma menina talentosa e
possui tudo para ser uma escritora mas, enfrentará
dificuldades se não aprender um mínimo de regras gramaticais... Deixe o ritmo e
a cadência para a sua boa audição e o fluir das palavras terão a simplicidade
de quem fala pelo sentir”.
Grande lição do mestre Jayme!
Desde então, gentilmente, ele me emprestava livros
em prosa e verso de autores listados pela religião como proibidos...
As vezes, eu os lia com o receio de estar “pecando”, vejam
só!
Entre as páginas desses livros havia sempre
uma pequena lição de gramática, elaborada por
ele.
Em suas aulas no colégio eu achava muito
interessante a conotação de intimidade como ele se expressava sobre alguns
autores. Causava-me a sensação que
teriam sido todos eles seus amigos de infância ou de juventude...
Professor Jayme
era um
homem maduro e, no linguajar interiorano, um solteirão. Mais tarde casou-se com a minha querida
professora Maria Geralda, mais conhecida como “dona
Bibi” e juntos criaram uma linda família.
Felizmente consegui
homenagear meus mestres queridos e minha terra natal de Alvinópolis (MG)
quando ingressei na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais
ocupando a cadeira que pertencera ao Dr. Geraldo de Vasconcellos
Barcelos – irmão dos meus amados mestres
Jayme, Diva, Judite, e do meu saudoso amigo e Filósofo nato Zezé
Barcelos.
Revi o Professor Jayme antes de sua lamentável morte.E ele disse-me
com o olhar lacrimejante que sentia muito orgulho em ter sido meu mestre...Ao
se despedir arqueou suas acanhadas e tremulas mãos em meus ombros – como se
fora uma benção– e, com um leve sorriso nos lábios falou-me ter entre velhos
papéis e anotações, um caderno com meus
enxertos literários e que nunca
atrevera em corrigi-los. E arrematou esse nosso rápido encontro,
expressando: “as correções técnicas sempre desfazem a inspiração e os sonhos de quem traz no
espírito a arte de ser poeta.” Vivi um dos maiores dias de glória e com a voz
contida os meus lábios – de maneira silábica pronunciaram:
obrigada!!!
Magda Lúcia
Rodrigues é escritora Alvinopolense, membro da Academia Municipalista de
Letras de Minas Gerais.
Contato :
magdabeaga@terra.com.br
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O título deste artigo será do próximo
livro da autora.