Industrial dos
4x0,
o melhor time
que já vi jogar em Alvinópolis
Marcos Martino
 |
Industrial Campeão da Liga de Rio Piracicaba em
1979.
Adair, Tiãozinho, Laércio, Cosme, Vantuil, Branco,
Zé Resende, Jorginho, Moreira.
Bené, Tiririca, Didi, Paulinho, Piniquinho, Nivota,
Ênio, Zezé Juquinha. |
Me perdoem os Alvinopolenses roxos, mas o Industrial de
Piniquinho, Cosme, Luiz Bocão, Branco, Nivota e Ademir Xirumba
foi o melhor time que vi jogar em Alvinópolis até hoje.
Sei que sou relativamente novo e assisti apenas a uma pequena
parte da gloriosa história de nossos clubes, mas aquela geração
jogava muita bola mesmo.
Minha memória é curta para lembrar detalhes, mas a exibição do
Industrial nos 4x0 contra o Alvinopolense foi desconcertante e o
escrete azul poderia ter feito até mais, tamanha a superioridade
em campo, a maestria de Piniquinho, enfim, a exibição pra lá de
perfeita.
Vale à pena falar de um por um.
Piniquinho era um craque de toques refinados, liso em campo, com
passe açucarado e faro de gol.
Branco era um beque firme e sério. Não brincava em campo e
tirava todas da área. Ficou famoso também pelas simulações de
câimbras, quando dava um grito e fazia um cinema que enganava
até as torcidas, tamanha a dramaticidade.
Nivota era o craque da sutileza. Chutava colocado, tinha um
ótimo cabeceio, um bom passe e jogava muito com o calcanhar
também.
Xirumba era o autêntico cabeça de área, que jogava plantado,
também sério. Um cão de guarda no meio campo.
De uma geração posterior, não posso deixar de citar Luis Bocão,
um beque muito acima da média, que sabia sair jogando como
ninguém e tinha um poder de recuperação como poucos beques que
vi jogar nessa vida.
Importante também citar Cosme, um centroavante nato, na minha
opinião o jogador que melhor fazia o papel de pivô que já vi
jogar, além de ser goleador, com muita força física e
velocidade.
Também não posso deixar de citar Carlinhos de Fonseca, que
divertia a galera com seus dribles, quando caia pela direita e
Didi de Quincas, um jogador que sabia utilizar os espaços vazios
e que fingia ser lento para desequilibrar com sua inteligência
acima da média.
Me perdoem outros craques de outros tempos, mas estes aí
povoaram a minha juventude como heróis de uma época.
Me lembro de ir para os campos, com pai ou com os amigos,
levando meu radinho de pilha pra ouvir o Cruzeiro e sempre
pensava comigo: puxa vida...esses caras se jogassem no Cruzeiro
iriam fazer sucesso.
Branco chegou até a jogar no Valério Doce. Lembro-me de ouvir
uma partida entre Cruzeiro e Valério e do locutor gritando:
- Espana Perfumo
de qualquer maneira.
Ele tinha esse
apelido por causa da semelhança com o futebol de um becão do
River Plate da época, que depois chegou até a jogar no Cruzeiro.
Ah...não posso também me esquecer de alguns eternos cascudões
como Dico de Caitanim e Toão João. O nosso Tão João jogou no
titular por várias vezes e acho que Dico também. Mas brilharam
mesmo foi no cascudão.
Tão João fazia
gols de todo jeito e era um cracão no campim da rua de cima. Não
entendia porque não pegava titular no Industrial. Dico também
pra mim era craque. Uma vez foi jogar pelada no campim da rua de
cima com a gente e me deu 12 chapeuzinhos.
Bom...mas ouvindo assim, a turma pode pensar...uai...mas Marcos,
filho de Tone Anemia que é Alvinopolense doente, sobrinho de
Babucho, de João de Vina, primo de Joãozinho...é Industrial?
Mas aí é que tá. No que diz respeito a Alvinópolis, gosto dos
dois times.
Não posso negar que convivi por mais tempo com a turma do
Industrial e como cruzeirense doente, tenho uma tendência para o
azul.
Mas também aprendi a gostar do Alvinopolense.
Fiz muita amizade com Tuôla, participei de carnavais e fiz hinos
pra escola de samba do Alvinopolense e fiquei com o coração
dividido.
2X2 – A
VINGANÇA QUE NÃO VEIO
Era uma tarde
ensolarada em Alvinópolis e eu estava todo feliz estreiando uma
camisa do Cosmos de Nova York que havia comprado pelo reembolso
postal.
Nessa época eu
andava direto com Dico de Caitanim, surdista inseparável nas
batucadas da vida. Tínhamos uma prática interessante de chegar
cedo ao colégio para encontrar duas carteiras na sala de aula
que nos servissem de surdo e tarol. Fazíamos batucadas,
criávamos nossas próprias músicas e as meninas sambavam na sala.
Quer dizer, nos intervalos antes de começarem as aulas. Quando
os professores estavam na sala éramos super respeitosos. Mas,
aberto o parêntese para falar da nossa amizade, vamos à partida.
Por andar com
Dico, nessa época eu pendia mais para o Industrial. A cor azul
do uniforme também ajudava, pois desde pequeno sou cruzeirense
doente, de ouvir todos os jogos, ouvir os noticiários, etc. Mas
aconteceu uma coisa diferente para essa partida.
Meu primo Bife
tinha um gravador e uma parafernália de gravação. Convidou-me
para ser locutor na gravação e ele seria o comentarista. Como
sempre gostei dessa área de locução e comunicação, topei na
hora.
Antes, tinha
passado por um estágio como locutor no campeonato de futebol de
botão na casa de Marcelo Xuxa ( que merecerá uma outra matéria
qualquer hora dessas).
Fomos para o jogo
e Bife estava super otimista. Aliás, a torcida do Alvinopolense
contava com a vingança. Meu pai mesmo, mais conhecido como Tony
Anemia, havia me falado que seria de 6x0.
As torcidas
chegavam ao campo.
A do Industrial
ficaria no espaço reservado do lado dos eucaliptos. Começou o
jogo e realmente o Alvinopolense partiu com tudo pra cima do
Industrial. Eu ia fazendo a locução no estilo Alberto Rodrigues
e o Bife fazendo seus comentários, sempre parciais à favor do
Alvinopolense. O time alvinegro pressionava e a torcida estava
enlouquecida. A torcida do industrial mais calada, pois
enfrentava outro problema.
Havia milhares de
formigas saúvas no local picando todo mundo.
Depois disseram
que foi o presidente do Alvinopolense que mandou colocar as
formigas lá. Enquanto a turma tentava se proteger das saúvas,
Gooollllll.
1x0 para o
Alvinopolense.
O Travolta René
estava deitando e rolando.
O Alvinopolense
massacrava.
Bife foi à loucura
e o comentarista deu lugar ao torcedor.
Com poucos
minutos, mais um gol do Alvinopolense e ai o comentarista Bife
perdeu totalmente a compostura. Em seu comentário falou que a
goleada iria acontecer mesmo e que não tinha dúvidas.
Lembrei-me das
palavras do Sr Tony, dos 6x0.
Só que depois do
segundo gol, o Industrial resolveu colocar a bola no chão e
cadenciar o jogo. Foi aí que a técnica dos jogadores começou a
prevalecer. Pra completar, o Industrial havia guardado Nivota
para o segundo tempo.
Ele foi entrando e
fazendo primeiro gol do Industrial.
O Comentarista
Bife começou a ficar mal-humorado.
O Alvinopolense
ainda tentou dar mais uma pressão, mas o Industrial se encontrou
na partida e não tardou a empatar.
Nivota voltou.
Quando fui ouvir o
comentário do Bife ele disse o seguinte:
-Assim não dá. Tá
encerrada a transmissão. Vou levar meu equipamento pra casa.
Assim, realmente
ele ficou macho, desligou tudo e foi embora.
Nessa partida,
chegaram até a acusar do goleiro Moreira de ter se vendido.
Puro folclore da
decisão.
O certo é que
naquela época o Industrial foi mesmo soberano.
A vingança foi
adiada para os históricos 3x1, quando a turma do Alvinopolense
montou uma verdadeira seleção regional, sobre o que escreverei
no próximo artigo.
(Em tempo, gostaria de saber se o Bife ainda tem essa gravação)
Marcos Martino é
alvinopolense, poeta, escritor, jornalista, músico.
Email :
marcos.martino@gmail.com