Paulo Moreira está de
volta.
Marcos Martino
Estava
eu subindo a ladeira dos italianos em direção à minha casa na rua de cima.
Subia devagar, assobiando que nem meu pai depois de uma boa conversa na baixada
sobre cultura, sobre o quanto a nossa cidade embora pequena tem
um grande caldo cultural que precisa ser melhor trabalhado. De repente, ouvi um
tropel de cavalo e fiquei atento.O pocotó só aumentava
e de repente avistei uma visão fantasmagórica que me paralisou. Tratava-se
de um cavalo de fogo enorme que vinha descendo em grande velocidade, sendo
montado por cavaleiro vestindo uma capa e comum chapéu de couro. Num segundo
chegou perto. A rua estava completamente vazia. O cavaleiro puxou as rédeas e
desceu pertinho de mim. Veio chegando como se fosse a
coisa mais natural do mundo e me cumprimentou dizendo:
-
Olá. Como vai? Sabe em que ano estamos?
-
Ano? Dois....mil e...dez
-
Minha nossa senhora. Então desta vez eu voltei no ano certo. Virgem Maria.
-
Mas...que...quem é o senhor?
-
Ah...meu prazer...eu sou Paulo Moreira.
-
Pau...o quê?
-
Paulo Moreira, sô...o home que fundou essa cidade.
Nunca ouviu falar de mim?
-
Ouvir eu ouvi...mas...você já morreu há muitos anos.
-
Por Nossa Senhora do Rosário. Você não acredita em nada não? Ainda não entendeu
que a morte não existe?
-
Mas então...você é o fundador da cidade?
-
Olha...fundador eu não sei. Quando eu cheguei já tinha
muitos índios por aqui que tivemos de expulsar para nos assentar. Mas pelo
menos a comunidade branca, fui eu quem começou sim.
-
Mas e aí? Ta gostando da Alvinópolis do jeito que está?
-
Ah...mais ou menos. Algumas coisas me chateiam. Não
tem nem uma estátua pra mim. Já vi em algumas cidades uns monumentos bonitos
homenageando os bravos pioneiros.
-
É verdade, seu Paulo. Também acho que o Senhor merece uma Estátua.
-
Outra coisa. Deram o nome da cidade de Alvinópolis, por causa do tal de Cesário
Alvim que nunca veio aqui. Poderia chamar Paulópolis, Paulo Moreira.
-
Ah seu Paulo. Isso ai o Sr vai me desculpar, mas já estou acostumado com
Alvinópolis e não gosto dessa história de mudar de nome não.
-
Tá bom...mas pelo menos uma estátua pode ficar legal.
-
Mas seu Paulo. O Sr vem direto aqui na terra?
-
Não, sô. De 10 em 10 anos o pessoal lá de cima libera a gente para dar uma
volta e ver como estão as nossas obras aqui nesse planeta.
-
É mesmo? E que recado o Sr tem para o nosso atual prefeito, João Galo índio?
-
Fala pra ele que é pra não descuidar do meio ambiente, pois
investir no meio ambiente significa investir na saúde preventiva.
Além do mais, se tiver matas e muitos passarinhos cantando, me sentirei mais em
casa quando vier aqui.
-
Puxa Sr. Paulo Moreira. O Sr é um fantasma muito gente boa, viu?
-
Assombração sabe para quem aparece, seu Martino. Agora deixa eu
ir, pois meu tempo está se esgotando. Seu avô mandou um abraço viu?
-
Seu Paulo...e a minha...
-
Ela está bem também. Bondosa e caridosa como sempre.
-
Então, bom retorno pro senhor, viu seu Paulo Moreira. E esse cavalo? É de fogo
mesmo?
-
De chama sagrada. Vamos lá, Zamparina. Vamos voltar pois
o tempo urge.
E
foi-se o Paulo Moreira subindo o morro de volta.
Continuei
subindo para a minha casa e quanto olhei em direção ao cemitério vi que havia
uma grande lua cheia por cima, compondo um cenário lindíssimo.
Imaginei
a cena do cemitério iluminado pela lua, o cavalo de fogo amarrado a uma cruz e
vários alvinopolenses de todos os tempos, conversando animadamente.
Em
meio a esses meus pensamentos fantasiosos, tive a impressão de ter ouvido um
grito conhecido:
Prú Tchá!!!. Ê Alvinópolis véia de
guerra!!!
Marcos Martino é alvinopolense, poeta,
escritor, jornalista, músico.
Email :
marcos.martino@gmail.com