ONDE TODAS AS SEMANAS SÃO SANTAS
Marcos Martino
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Foto : Gjunior |
Morar fora de Alvinópolis, muitas vezes é como viver no exílio.
Sinto como se vivesse num país estranho, onde os costumes, os
volumes, as amizades, os sotaques são estranhos, por mais
semelhantes que sejam.
Não conhecemos as famílias de
cicrano, as manias de beltrano, nada sabemos.
Muitas vezes nos sentamos nos
ônibus ao lado de um estuprador, de um pedófilo, de um
extraterrestre, de um muçulmano.
Vivemos em casas onde muitos já
viveram, dormimos em quartos em que muitos já morreram, se
amaram, sei lá mais o que fizeram.
Como dói a saudade da aldeia.
Muitas vezes somos exilados de nós
mesmos, perdemos a utilidade, queremos voar mais alto, como num
vôo de Ícaro contemporâneo, tendo a asas coladas com chicletes.
Quem dera pudéssemos pousar
novamente, suavemente em grande estilo, mas o campo de aviação
encontra-se cheio de lixo, não se presta ao pouso de anjos, mas
de urubus e outras aves de mau agouro.
Pelo menos há alívio quando temos
indultos para voltar ao paraíso.
O mesmo relevo, o mesmo clima, as mesmas ruas.
Algumas mudanças ocorreram,
sumiram alguns campinhos de futebol, o asilo subiu pro monte, o
rio antigo tá menos caudaloso, mas em compensação temos um rio
de shampoo desaguando no país inteiro.
Os bambas do Gaspar ficaram bambos
com a quase morte do Alvinopolense e o folião que abandonou a
marinha, tava até pensando em voltar pro mar...mas eis que o
carnaval retomou seu vigor e o que estava bambo se firmou e o
que era “ Adeus” virou "até breve".
Ê Alvinópolis véia de guerra.
A vida da gente é um filme, mas
não somos nós que escrevemos os roteiros.
Não sabemos onde estaremos amanhã, mas sabemos que o cordão
umbilical tá enterrado aí, feito de material mais resistente que
o mais resistente dos aços.
E agora, ficamos todos nós
exilados esperando a semana santa, pra voltar pra terra onde
todas as semanas são santas.
Marcos Martino é alvinopolense,
poeta, escritor, jornalista, músico.
Email :
marcos.martino@gmail.com