Tombando o carnaval
Marcos Martino
Ah
nossas memórias...vão ficando esparsas, sem nitidez,
perdem-se na poeira do tempo.
Estive no carnaval de Alvinópolis e uma
coisa ficou muito clara pra mim: algumas tradições estão sendo engolidas pelo
rolo compressor do marketing, da necessidade da renovação, da troca dos refis,
da simples substituição do que é antigo pelo modelito mais novo.
Digo isso
porque senti muito claramente uma separação entre a turma que ainda sente um
arrepio quanto ouve "Bambas do Gaspar" e "Adeus, Marinha " e a nova geração, que vem
chegando para substituí-la.
Essa turma tem outras trilhas sonoras em suas
vidas. Por mais que a turma antiga resista e critique a baixa qualidade musical
das músicas que curtem, eles não querem nem saber.
Chegaram a me dizer que
alguns dentre a garotada, dispensaram o acompanhamento das charangas, que só
tocam marchinhas e eles preferiam desfilar ao som dos funks.
Quem somos nós
para contrariá-los. Nós, os velhos saudosistas dos carnavais de outrora temos
de nos conformar. Aliás, nem adianta não nos conformarmos. Seremos atropelados
assim mesmo. Já ouvi dizer que as gerações novas tendem a cortar as cabeças das
anteriores para imperar. Vou tratar de comprar uma proteção de ferro pro
pescoço.
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Bloco Ninho da
Águia 2010.
Puxado pela
charanga com as tradicionais marchinhas de
carnaval. |
Por essa e por outras, já começo a me preocupar com a preservação
dessas memórias. Sugiro ao pessoal do Patrimônio Histórico que tombe "Bambas do
Gaspar" e "Adeus Marinha". Pode ser que num futuro
queiramos mostrar para nossas proles como eram os nossos carnavais. Aproveitem
também para tombar o Alvinopolense e Industrial. Esses clubes, glória do
passado, já estão também se encaminhando para virar história. Tombem também o
congado e tudo que mereça ser lembrado. Aliás, sugiro até a construção de um
museu. Pode ficar próximo ao cemitério, recheado de arquivos mortos para estudos
antropológicos no futuro.
Será bom, pois nossos fantasmas poderão assombrá-lo,
quem sabe entoando Bambas do Gaspar e Adeus Marinha, gritando
prú-tchá e Uriaba.
(OBS – Levando em consideração que a cidade esteve
lotada como nunca, que os blocos mataram a pau, que a voz geral foi de sucesso
total, pode até parecer que meu artigo é pessimista. Nada disso. Não é
pessimismo com o carnaval em si. Apenas um canto agônico de um tempo que está
passando e deixando seus brilhos fugazes. Melhor mesmo é não perdermos o trem
da história. Que venha o próximo carnaval e que seja ainda melhor.
Marcos Martino é alvinopolense, poeta,
escritor, jornalista, músico.
Email :
marcos.martino@gmail.com