A ETERNA ACADEMIA

 

Maurício Lima

 

 

 

Campo minado de eternas batalhas

Deuses vencidos, vendidos, banidos,

Celeiro de poderosos guerreiros

 

É a batida no couro e o eco sem volta

Terreiro do horror da revolta

 

O que foi luz cativa trevas

E a bola, a expoente,

Já não tem reverência

Resta o forte brado de tristeza

Clamando por emergência

 

O homem que dos calos

Cavou o chão

O chão que passeia a bola

A bola que faz história

 

O homem que com os seus dotes

Fincou no chão os primeiros postes

Reverenciou ao pai elevando aos céus

Fez nascer o esporte com os seus lauréis

 

 

Oh! Que saudades

Das marcas das chuteiras nas trincheiras

Do homem gol e seu cabeceio

Fazendo a festa do povo

Que pedia o gol de novo

 

Oh! Alvinopolense

Aquele você se lembra?

O alvinegro das tradições

Dos velhos craques,

Das batalhas sem mortalhas

Dos trapos e pouca roupa

Movidos pela paixão

 

E a bola?

Coitada, ela que tanto rolava

Hoje não rola mais

Restam as chagas, é claro...

E um horrível presumo de morte

 

Oh! Amigo tão ingrato

Não vês?

É a morte... A morte da bola, esta sem sorte

Que adormece em pleno calote

 

E o que foi luz alimenta a escuridão

 o silêncio retumbante da história

Faz do pranto um explícito código

Da humana afirmação

E as páginas amarelas deste caderno

Sangram em prantos demorados de espera

 

O rosto dos saudosos e eternos

Brilham em lágrimas

Sozinhos, frágeis...

Sem justiça nesta terra

 

 

O olhar curioso daqueles que passam

Das questões, das dúvidas,

Das incertezas, dos passos em falso,

Dos cadafalsos, das câmaras de tortura,

Da cegueira, da injúria,

Do executivo sem motivo,

Do povo que faz prá ver de novo

 

E a peleja da humanidade

Sai do campo, da cidade

Vai pras mesas dos botequins

Prá discutir os enfins

 

E o saudoso alvinopolense...

Parado... Estancado na avenida

Perdeu o terreiro que lhe dava vida...

 

Rola bola, rola de novo

Mostra pro teu povo

Que tu és rainha

E se tentaram lhe mostrar o inferno

Erro mero...

Queimaram-na como a Roma de Nero

Mas jamais lhe arrancarão o cetro

Pois o teu reinado é eterno como o ferro

 

Resta saber se estes homens do poder

Vão sentir na intimidade

O que sente toda a cidade

O respeito merecedor, deste clube de tantas glórias

Das saudosas vitórias

Dos gritos do torcedor

Sofredor de tanto amor

 

 

Maurício Lima é alvinopolense e ex atleta do AFC.

Contato : mauriciolimae@yahoo.com.br