Osvaldo André de Mello
Chega-se a Alvinópolis
Singrando montes minerais
Florestas verdes e azuis
E regiões encobertas
De nuvens, lendas, mistérios.
No Campo Alegre
O ônibus pára. E descansa o
motor.
Café, requeijão
e as laranjas, no balaio da velha.
Em Monlevade à noite
a fumaça vermelha sobe o minério toma corpo
de exportação e riqueza.
Rio Piracicaba!
A Igreja de escadaria
Guarda a gratidão do escravo
- escondido na clareira
Esculpia o Cristo
Prometido em louvor
Da liberdade.
Alvinópolis está perto
Estrada de terra e curvas sinuosas.
Os mineiros antigos Cavalgam nas margens!!
Em Alvinópolis, Guilhermina e Cyrene
preparam doce de ovos, mamão de espelho
de servir em porcelana antiga.
Joana espia o lombo
no fogão de lenha
a carne vai suando
devagarinho, Joana atiça o fogo,
tempera a carne, Joana
que não deve faltar nas boas famílias mineiras.
A cidade divide-se em três :
Baixada e Gaspar,
Para onde mudou a prefeitura
E o comércio se concentra
Santa Cruz ou Bananeira E a rua de cima,
onde a cidade vicejava nos dias passados : Cavalheiros e senhoras bem vestidos
para a estréia de “Os amores de
Tomé”.
Ah! O Teatro de Alvinópolis
Na lembrança dos mais velhos!
As mulheres estão sentadas
Nas cadeiras italianas
O sol bate vigoroso
No “rouge” natural
De suas faces
Há um circo na cidade
Que anuncia :
Os bandidos da serra morena.
Todos se aprontam para a sessão. Carrinhos de pipoca, algodão doce,
quebra queixo e pirulito de tábua.
As mulheres do circo cheiram a alecrim
- vieram do fundo do sertão, sem artifícios ou truques.
Sua beleza é natural. Ai, as mulheres do circo
depois do banho!
Tia Rosa recebe-nos para uma visita.
Prepara-se com antecedência. Vestido rosa-pálido,
travessa nos cabelos brancos.
Uma pele nova e viçosa.
O segredo não revela a ninguém.
“Bons talcos e sabonete Reuter” Para os que insistem.
A Igreja do Rosário
resiste no morro.
Pedras próprias de pagar promessas
com os joelhos
Abrem-se em caminho.
Que mestre arquiteto
A teria erguido
Na lembrança da igreja irmã Nossa Senhora do Ó::::
De suas paredes
Ecoam negras lamentações
Os negros estendem
A festa do reinado:
Em outubro
Deus é servido
Enquanto permitir
A igreja do Rosario Resiste no morro.
Suas portadas refletem os passos na cidade.
No seu interior
A Virgem sorri
Um triste sorriso
De solidão : Benedito e Ifigênia foram roubados.
Alvinópolis rouba lentamente
o coração dos visitantes. Tio Clodomiro dá-lhes de beber os bons licores
da terra em sua adega.
Joana aproxima-se risonha
Com um pedaço de tenro lombo
A banda do colégio
Tocas músicas de suas preferências
E Bia convoca uma partida de futebol!
As moças mais belas de Minas
Distribuem rosas
E sempre vivas
Ai, Alvinópolis
As crianças propagam
O céu folgado
E o sossego.
Os visitantes não falam. Ficaram.
|