Sobre o homem que
consertava lâmpadas
Vanderlei Lourenço
É sobre um vizinho do Godinho, meu colega de trabalho.
Segundo ele, o homem consertava lâmpadas!!!
Pois é. Cada uma que
aparece... mas eu, que já não estranho nada de novo que
aparece, achei cômico ouvir sobre a repentina fama do
consertador de lâmpadas queimadas.
Começou por consertar a
lâmpada queimada da casa de um vizinho e, como é comum
nessas situações, não demorou muito para transformar-se no
"consertador" oficial das redondezas.
Até cartaz colocou na porta:
"Conserta-se lâmpadas".
Excluindo-se as desconfianças de poucos, ia ganhando uns
trocados, coisa de centavos por lâmpada consertada. Nem
podia ser caro, afinal, trata-se de um produto barato. Mas,
considerando-se que todos querem fazer uma economiazinha, o
negócio ia de vento em popa.
Praticamente ninguém
questionava. Levavam as lâmpadas em uma sacola e, no dia
seguinte, lá estava a sacola de volta, com as ditas em
perfeitas condições.
Até que um dia, um vizinho não resistiu: "mas, como pode-se
consertar lâmpada queimada? Queimou, não tem conserto..."
Mas as lâmpadas que voltavam
da casa do "consertador" eram a prova de que tinha jeito
sim...
Resolveu, então, esse vizinho curioso (sempre tem um Tomé
por perto...) a inquirir a família.
Encontrou uma enteada do
homem, pronta a colaborar.
Com a condição, claro, de que
não fosse relatado que ela contara... e o segredo foi
descoberto:
Acontece que o homem era vigilante de uma grande empresa.
Dessas que tinham muitas e muitas lâmpadas tipo aquelas que
iluminam as residências.
Sobretudo naquela época,
década de 70, segundo Godinho.
Então, recebidas as lâmpadas
para conserto, elas eram embrulhadas em papel jornal e
levadas para a empresa junto à marmita do "consertador" que,
durante o seu plantão, fazia o "trabalho", quando não estava
sendo observado.
Dia seguinte, antes de sair para o trabalho, o "conserto"
estava lá, na mesma sacola em que os objetos haviam
recebidos, para perfeito uso, em troca de vinte e cinco
centavos.
Até o dia em que a enteada resolveu espalhar a história e o
gerente da empresa descobriu porque queimavam tantas
lâmpadas nos galpões da empresa...
aí foi demitido.
E finalmente percebeu que
consertar lâmpadas não compensa...
Vanderlei Lourenço é alvinopolense, poeta e
escritor.
Email :
Vanderhugo@yahoo.com.br
Blog :
http://www.vanderhugo.blogspot.com
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