Pastéis de
Belém
Zózimo Drumond
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Zózimo, em frente ao Mosteiro dos
Jerônimos,
que fica em frente à Torre de Belém e à esquerda da Pastelaria. |
No aeroporto em SP, antes de embarcarmos nessa
viagem, ficamos conhecendo um casal que faria parte do nosso
grupo.Como tínhamos muito tempo disponível, conversamos
bastante sobre a expectativa daquela viagem e uma das
coisas que a Mônica (a mulher do casal) disse, é que estava
ansiosa por experimentar um "pastel de Belém", em Lisboa.
Alertei-a para que não ficasse muito ansiosa, para
não atrapalhar-lhe o passeio, uma vez que de acordo com a
programação de nossa excursão, iniciaríamos a viagem
descendo em Madri e ficaríamos a maior parte do tempo na
Espanha, só indo para Portugal nos últimos dias.
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Todos querem um pastel de Belém |
Pois bem. Já em Lisboa, outras pessoas do grupo,
cobraram do guia de quando conheceríamos o famoso
pastel, ao que ele respondeu que isto fazia parte da
programação dos últimos dias. A curiosidade foi
aumentando e eu, que sempre gostei de um pastel
quentinho, queria que chegasse aquele dia.
Finalmente o dia chegou. Naquela enorme Praça, do
lado do mar, estava, imponente como sempre, a Torre de
Belém, marco de nossa história, pois dali Cabral partiu
com sua caravela, em viagem que culminaria com famoso
descobrimento. No lado oposto, o suntuoso Mosteiro dos
Jerônimos e à sua direita,a Pastelaria. Pompéia pediu
um pastel, gostou, pediu um segundo e consumiu-o.
Comprou uma caixa do produto (com uns oito) para trazer
para nossos filhos conhecerem.
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Pompéia, bem em frente a "Pastéis de
Belém" |
Chegou, então, a minha vez. Pedi o primeiro, comecei a
comê-lo e não consegui chegar à metade dele. Aquilo era um
doce. Sim, pastel de Belém é um doce que, se existisse no
Brasil, seria vendido em confeitarias.(No Rio, talvez na
Colombo). Eu, que nunca fui muito afeito a doces, estava
ali, com metade de um impostor na mão, que ainda trazia uma
camada de uma nata de açúcar refinado em sua parte
superior. Gente, pastel para mim é guloseima salgada, com
pimenta, que sai da panela soltando fumaça, tendo seu
consumidor opção de reforçar os condimentos usando uma
garrafa de molho apimentado, disponível no balcão.
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Pastéis de Belém |
Já vi várias reportagens elogiando o pastel de Belém,
crônicas de páginas inteiras, etc, no entanto continuo
pensando que pastel é o nosso, principalmente aquele que
quando eu era criança, e minha mãe via que o guarda-comida
(*) estava desprovido para o café das três da tarde,
abandonava, temporariamente a máquina de costura, ia para o
fogão a lenha e, em minutos havia, agachados na cozinha, uma
penca de crianças felizes.
E, para aumentar a minha crítica, comento que em todas
as reportagens que vi sobre os pastéis de Belém, salientam
que a receita dos mesmos é guardada a sete chaves, para que
ninguém tome conhecimento dela. Pois vai aí, em sua
simplicidade, a receita do nosso pastel, que é muito melhor
e é o genuíno:
- um rolo de madeira (que pode ser substituído por uma
garrafa), farinha de trigo, água, obtendo-se a massa;
- o recheio, normalmente carne moída - pode ser de
segunda mesmo - mas com muito tempero;
- após encher a massa, que foi cortada em rodelas,
comprimir com um garfo, ensejando, assim, o seu fechamento.
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Pastel de Carne |
(*) Guarda comida: antecessor da geladeira. Era um armário
de madeira em cujas portas eram fixadas telas de malha
pequena, que permitiam a circulação de ar, mas proibiam a
visita dos indesejáveis mosquitos. Seus pés eram colocados
sobre latas de sardinha com água, para que as formigas não
atacassem pela retaguarda.
O meu abraço a vocês.
Zózimo Drumond
é alvinopolense e reside em Belo Horizonte.
Contato
:
zozimodrumond@yahoo.com.br