Entrevista com Zé Fernando
Por Marcos Martino
Candidato ao governo de Minas
pelo Partido Verde, Zé Fernando, fala ao Alvinews sobre seus
projetos de governo e apresenta soluções para os grandes
problemas de Minas.
José Fernando
Aparecido de Oliveira, mais conhecido como Zé Fernando, é
advogado formado pela PUC-MG, casado e pai de um filho. Com seus
pais, Maria Leonor Gonçalves de Oliveira e o saudoso
ex-ministro, ex-governador e ex-embaixador José Aparecido de
Oliveira, aprendeu a fazer política com ética, respeito e
transparência. Com apenas 35 anos, já possui uma vasta
experiência na política.
Site :
http://www.zefernando.com.br
"Minas
pagou, nesses últimos anos, o pior salário do Sudeste para os
professores". É com essa frase que Zé Fernando abre sua
entrevista ao nosso jornal. Filho do saudoso embaixador José
Aparecido de Oliveira, o candidato verde já foi prefeito de
Conceição do Mato Dentro por dois mandatos, eleito aos 25 anos
de idade. Hoje é deputado federal aos 36 anos de vida. Zé
Fernando explica sua
trajetória
política vitoriosa, revelando uma nova liderança de nosso
Estado.
Aliado da candidata
presidencial Marina Silva (PV), ele disse que fará de sua
candidatura um ato de defesa das riquezas de Minas. Quando o
assunto é o meio ambiente, Zé Fernando faz uma verdadeira
declaração de guerra à questão mineral. “Minas tem perdido muito
com a falta de uma política mineral para o Brasil, que prejudica
nosso país, mas arrebenta Minas Gerais. Nós não temos um sistema
de concessões de jazidas como temos para o petróleo”, adverte o
parlamentar que, durante seu mandato, tentou em vão aumentar os
royalties do minério, equiparando-os aos do petróleo.
Sua gestão revolucionária como prefeito, o fez ser
reeleito, e marcou a história de Conceição do Mato Dentro pela
forma moderna, dinâmica, e espírito inovador com que conduziu a
administração do município. É com essa visão que Zé Fernando
fala de seus planos à frente do governo de Minas.
Minas tem perdido muito
nesses anos todos com a falta de uma política estratégica
mineral, que prejudica o Brasil, mas arrebenta Minas Gerais. Nós
não temos um sistema de concessões de jazidas como temos para o
petróleo. Depois, tem a questão de royalties que chegaram ano
passado a R$ 63 milhões, no Estado, com toda a atividade
mineral. Só a Prefeitura de Campos, no Rio de Janeiro, arrecadou
R$ 1,250 bilhão no ano, e o Estado do Rio mais de R$ 10 bilhões
com o petróleo. Você acha que nós podemos aceitar isso,
continuarmos calados diante desses números? Depois, você não tem
uma cadeia produtiva em cima da extração. Falta uma visão
estratégica para agregarmos valor ao produto que exportamos in
natura. Essa é uma questão que precisa ser colocada como ponto
central do debate na sucessão em Minas. Outra questão
importantíssima é a produção do café. Minas produz mais de 20%
de toda a produção cafeeira do mundo. Ao contrário do café
colombiano, o Brasil não tem uma política internacional para o
café. A falta dessa política prejudica o Brasil, mas fale Minas
Gerais. Temos que agregar valor ao nosso café, que é reconhecido
mundialmente e que ainda assim o exportamos sem ser beneficiado.
A Alemanha compra nosso café in natura e depois nos vende 10
vezes mais caro como café solúvel, agregando valor ao produto. E
nós pagamos mais caro por um produto que é nosso, que nós
produzimos, às duras penas. Minas também é a maior bacia
leiteira da América Latina. Não há também mobilização do Governo
do Estado em torno de políticas nacionais para esse setor. Como
pode um produtor rural vender um litro de leite por R$0,59. Isso
é menos que uma garrafa de água mineral. Nossa candidatura é um
ato de defesa dessas riquezas, um grito de basta, de consciência
cívica e moral, por isso nossa coligação se chama A Nova
Inconfidência.
O senhor falou em agregar valor ao
minério de ferro, ao café. Tudo isso tem a ver com educação.
Quais são suas proposta para o setor? Os funcionários da
educação em Alvinópolis vem sempre manifestando o seu
descontentamento com que o governo tem tratado a classe.
Minas Gerais gerou um déficit na
educação muito grande nos últimos anos. Não quero fazer nenhuma
crítica a essa administração, apesar da questão do piso
salarial, que foi corrigido depois de oito anos. Minas pagou,
nesses últimos anos, o pior salário da região Sudeste e o oitavo
pior do Brasil, de acordo com o sindicato nacional. A questão da
educação é um ponto central, não só do meu governo, mas também
do governo da senadora Marina Silva - candidata do PV à
Presidência da República. O Brasil está 30 anos atrasado se
comparado ao Chile. Hoje, nós investimos cerca de R$ 1.100 por
ano por aluno no Brasil, em torno de 5% do PIB (Produto Interno
Bruto). A nossa candidata Marina Silva tem uma proposta de
investir mais e ir dobrando ao longo dos anos para nós chegarmos
a um patamar de R$ 2,3 mil por aluno ao ano. Nossa gestão vai
colocar a educação como ponto central, dentro de uma política de
valorização do professor, a mola mestra da educação. Não existe
uma educação de qualidade com professor mal remunerado e sem
qualificação. Vamos investir na educação dentro das premissas
básicas: boa remuneração para o professor e capacitação. Não
podemos esquecer que a escola é pública e fazer essa ligação
maior com a sociedade, para que ela se interaja cada vez mais
com a escola é parte de nosso plano de Governo. Temos uma
proposta de Bolsa Mestrado para o professor, investir no ensino
profissionalizante. Criação de escolas técnicas, escola em tempo
integral, Bolsa Mestrado, essas serão nossas diretrizes básicas.
O que o senhor chama de uma boa
remuneração para o professor e onde procurar receita para que a
folha de pagamento suporte essa boa remuneração?
Simples. Temos que buscar
dinheiro onde se tem para pagar. Colocar os royalties do minério
no mesmo patamar que existe para o petróleo. Isso injeta
imediatamente mais de R$ 5 bilhões em nossa economia. É esse o
dinheiro que falta para dar aumento aos professores, para
construir escolas, para investir na saúde, na segurança pública.
Outra coisa: isentar todo o ICMS para a exportação mineral é
muito grave. O cidadão paga 30% de ICMS na conta de energia
elétrica, 18% para o produtor de feijão. Então, por que isentar
um bem natural não renovável para as grandes multinacionais? O
que existe aqui é uma inversão de valores: sobretaxa quem não
pode pagar e isenta quem pode pagar. Nós vamos acabar com isso.
Embora Alvinópolis não tenha a mineração como
atividade principal, está inserida num polo importante e acaba
de forma indireta sendo atingida pela atividade. O que o senhor
pensa sobre a degradação ambiental provocada pela mineração?
Minas
Gerais é hoje um queijo suíço e as mineradoras não aceitam
sequer discutir o aumento dos royalties pela exploração. Essas
mineradoras estão em todo o mundo. Na Austrália, os royalties
são 7,5% do faturamento bruto. Aqui, é 2% do faturamento
líquido. No Chile, as concessões de cobre são no sistema de
concessão pública e de partilha. Hoje, depois do terremoto, o
dinheiro para reconstruir grande parte do Chile é oriundo do
fundo do cobre. Por que no Brasil tem que ser no sistema de
concessões gratuitas, royalties miseráveis e isenção de ICMS
para exportação?
É inaceitável esse modelo para um bem natural não renovável. O
governador de Minas tem o dever de bater a mão na mesa e dizer:
não aceitamos mais essa política da mineração para o Brasil.
Minas não pode continuar de joelhos perante isso, e o governo
cego, surdo e mudo.
Quais são as suas propostas para
infraestrutura do Estado?
O Brasil deve crescer, em média,
5% ao ano, e vamos transportar esse Brasil através da BR 381,
que não está duplicada e que mata centenas de pessoas a cada
ano? Nossa candidatura vem para corrigir isso, erros que são
empurrados para o futuro sem compromisso algum com o povo
mineiro. Isso é uma vergonha. Com nossa produção de minério,
vamos criar uma fábrica de trilhos e vamos realizar a expansão
ferroviária do Brasil a partir de Minas Gerais. Hoje exportamos
minério e compramos bobinas de aço. Mas isso vai acabar. A
senadora Marina Silva voltará a Minas para, em João Monlevade,
junto comigo, fazer um ato em defesa pela duplicação da BR 381.
Alvinópolis no passado, foi preparada
para ter transporte ferroviário, inclusive com contruções de
túneis e terraplanagem. Por fatores que desconhecemos, todo o
trabalho foi perdido e paralisaram a ferrovia. O sr. tem um
plano para mudar essa cultura rodoviária que temos no Estado e
também investir num transporte mais solidário, como o transporte
sobre trilhos?
Para
que tenhamos uma idéia da importância do transporte ferroviário,
se levarmos o metrô até Contagem, tiramos mais de 1 milhão de
carros da rua todos os dias. Não temos infraestrutura rodoviária
para continuar crescendo da maneira que estamos crescendo. Ou a
gente investe no sistema ferroviário ou estaremos condenados a
ter cada vez mais acidente, mais tráfego, mais congestionamentos
e, conseqüentemente, mais mortes.
As políticas sócio-culturais de
inclusão das minorias vêm sendo desenvolvidas modestamente pelo
Estado. Enquanto uma necessidade, melhor, uma exigência da norma
constitucional, como será a política de governo que contemple
esse ponto?
Meu candidato a vice-governador
Leonardo Mattos é pioneiro e um representante das políticas de
minorias, é a figura que representa melhor do que ninguém o
compromisso com as minorias e nosso compromisso com o social.
Mas nosso governo não terá essa visão de minoria. Terá a visão
de cidadania, e só será um cidadão mineiro aquele que vive a
cidadania plena, além de credo, raça, opção sexual ou qualquer
espécie de limitação física.
O que fará para desenvolver e combinar
agronegócio e agricultura familiar?
É possível aliar a preservação
ambiental com aumento da produção. Temos tecnologia para isso.
Temos que colocar a nossa capacitação técnica, que é de primeiro
mundo, no aumento da produção, não do desmatamento, do aumento
da fronteira agrícola. Agricultura familiar é isso, é a
seguridade da vida no campo, com produção e dignidade.
Alvinópolis tem uma forte atividade
cultural, mas nunca é contemplada com recursos do estado em suas
atividades. Acabam todas as despesas sendo absorvidas pela
prefeitura, que já conta com recursos escassos. Como o senhor
avalia, do ponto de vista do atual governo, a cultura política e
a política cultural? Como fazer da cultura um ativo econômico?
Considero muito tímida a ação do
Governo do Estado, nesses últimos oito anos, na área cultural.
Vamos lutar, sobretudo, para democratizar a cultura e ampliar os
investimentos, revendo a Lei de Incentivo estadual, que permite
pouca mobilidade de investimento. Sou relator da PEC (Proposta
de Emenda Constitucional) 150, que estabelece investimento
mínimo de 2% do Governo federal, 1,5% do Governo do Estado e 1%
dos governos municipais na área da cultura. No Brasil, não
existe investimento contínuo de eventos que são absolutamente
essenciais, como o Festival da Música de Alvinópolis, que
completou 30 anos recentemente, como o Festival de Cultura do
Vale do Jequitinhonha. Eles têm que, ano após ano, ficar
passando o pires.
Qual a proposta para proteger os
remanescentes de mata nativa no Estado e a biodiversidade?
É lamentável que Minas seja o
Estado que mais desmata a Mata Atlântica e o cerrado no Brasil.
Temos programa ambiental bem rico na questão de integrarmos
agência de meio ambiente. Não podemos ser surpreendidos com o
licenciamento que é feito sabe-se lá sobre quais exigências. Tem
que ter uma agência, um órgão que responda pelos licenciamentos
aprovados, feitos com mais consistência, credibilidade,
transparência e responsabilidade. Não podemos esquecer que essa
questão ambiental é a razão da criação do Partido Verde.
Embora sejamos uma cidade pequena, já sofremos algums
sintomas da criminalidade aliada ao tráfico.
Quais seriam as estratégias do seu governo para o
enfrentamento da criminalidade violenta e do tráfico de drogas
em Minas?
Como deputado federal fiz uma PEC
obrigando toda as Regiões Metropolitanas a fazerem seu Plano
Diretor de Defesa Social. Não é possível pensar a diminuição da
criminalidade de BH dissociada de Betim, Contagem, Ibirité,
Ribeirão das Neves. Temos que ter um plano para essa região. É
inaceitável Minas continuar pagando o pior salário para um
delegado de polícia. Temos que oferecer curso profissionalizante
para a população carcerária sair de lá com alguma ocupação.
Se eleito, o que irá fazer para tornar o Judiciário mais ágil
no Estado.
A questão é mais federal do que
no nosso Estado. Temos que fazer a reforma do Judiciário como um
todo e isso só é possível por uma Assembleia Nacional
Constituinte.
Minas vem se destacando como
Estado que mais atrai investimentos produtivos do país. Isso
reforça a vocação de polos regionais na atração de
empreendimentos nacionais e externos. Qual o projeto do
candidato para manter e ampliar esse fluxo? Como Alvinópolis
poderia se inserir nesse contexto?
Incentivando as Parcerias Público
Privadas, atraindo investimentos. Queremos deixar de ser Estado
exportador de commodities para ser beneficiador de commodities,
como minério e café. Quero virar um Japão do ponto de vista do
beneficiamento do minério, atrair investimentos de alta
tecnologia e ter uma visão de não querer apenas crescer, mas
desenvolver. A Marina Silva transformaria o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) em PAD (Programa de Aceleração do
Desenvolvimento), porque crescer não é desenvolver, não é
progredir.Quanto a Alvinópolis, estaremos abertos para conversar
com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da cidade,
trabalhar suas vocações e criar novas perspectivas.
Como pretende descentralizar a oferta
de serviço de saúde?
Temos que acabar com essa
ambulançoterapia, que é colocar o paciente na ambulância mandar
para a capital. Isso não é política de estado. Temos que
investir na regionalização do serviço, nos consórcios de saúde,
que são sistemas que os municípios encontraram para resolver a
deficiência.
Como moralizar os gastos públicos do Estado,
acabando com o Tribunal de Contas, criando um que tenha
representantes da sociedade civil, com uma espécie de vestibular
para esses cidadãos?
Sempre fui um crítico da maneira como
se ocupa os cargos de conselheiro do TCE. Acho que é um órgão
técnico e tem que ser técnico (o indicado). Tem que ter pessoas
com formação, capacitação. Na verdade, o que se tem visto, muito
mais que política, é politicagem. Temos o maior crescimento da
dívida fundada do Governo de Minas nesses últimos anos. O choque
de gestão é, na verdade, uma indigestão para o servidor público
e um aumento da dívida pública de Minas Gerais.
Deixe sua mensagem final para os Alvinopolenses
Olha, fui duas vezes prefeito de
uma cidade pequena com algumas características até parecidas com
Alvinópolis. Minha cidade, Conceição do Mato Dentro, tal como
Alvinópolis, tem uma cultura muito forte, uma considerável
atividade agropecuária e mais recentemente entrou para o clube
das cidades mineradoras. Tenho notícias, através do meu amigo
Gustavo Prandini, que o Prefeito João Galo Índio vem fazendo um
belo trabalho por aí e o que os Alvinopolenses podem esperar do
Zé Fernando é de uma boa parceria para os projetos de interesse
do município, se Deus quiser.