Dr. José Sylvio - Medicina e Qualidade de Vida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi com enorme prazer que o Alvinews entrevistou o

 

Dr. José Sylvio Vieira Gomes,

médico  que nos fala um pouco sobre sua história em Alvinópolis,

 saúde pública, dicas de qualidade de vida, sobre os tempos da bossa nova e casos da terra.

Ele fez também um estudo que mostra a Visão panorâmica da Saúde no Município de Alvinópolis,

intitulado “Da pajelança a medicina baseada em evidências” , um estudo sobre Geriatria,

dicas de combate a velhice e um artigo sobre a Medicina Atual.

Ficam aqui registrados os nossos sinceros agradecimentos

e os parabéns  pelo  belo exemplo pessoal e profissional.

 

1 - Você é ligado a Alvinópolis pelos seus antepassados. Como vê a historia deles?

 

 

Não cheguei a conhecer meu avô paterno, José Cândido Gomes, um educador nato, nome do Colégio local, veio de São Bartolomeu (Ouro Preto) nem minha avó paterna, Maria Angélica Gomes.

Minha avó materna, Inácia Vieira Marques também era Professora, meu avô materno, Pedro Gomes Domingues, Dentista prático, ambos vieram de São Domingos do Prata. Morei alguns anos com eles, na mesma casa onde nasci, defronte o Grupo Escolar Bias Fortes.

Meu pai, que fundou a Escola Técnica de Comércio Cândido Gomes com dificuldades enormes, felizmente teve apoio de Professores que trabalhavam sem remuneração para tornar possível o funcionamento da Escola. Ele amava nossa  terra incondicionalmente. Minha mãe, Stella Vieira Gomes, também Professora.

As informações históricas sobre as gerações anteriores e a colonização de Alvinópolis de que disponho foram pesquisadas por meu pai ao longo dos anos, e se acham disponíveis na Edição Especial do Alvinópolis em revista, editada em 1982, após a morte de papai. Meu pai foi político por toda vida, mas não conseguiu eleger-se Prefeito. Por muitos anos teve jornal em Alvinópolis, foi Diretor da Corporação Musical Santo Antônio também por muito tempo. Aposentou-se como Secretário da Prefeitura local.

 

2 – Como era Alvinópolis nos seus tempos de criança e adolescência?

O que mais lhe marcou?

Era uma cidade bastante pobre, sem rede de esgotos, quase todas as casas usavam fossas, em muitas ruas esgoto corria a céu aberto, não havia captação de água suficiente, muitas famílias se utilizavam de água de minas.

A energia elétrica era muito precária, vinha de sobras das usinas da FABRIL. Às 22 horas havia troca das usinas e um apagão de alguns minutos que era a alegria dos namorados.

Não havia hospital até 1940, e mesmo depois da sua instalação as mulheres só tinham partos em casa, com as famosas e saudosas parteiras. Muitas mortes maternas no parto, mortalidade infantil elevadíssima, seus enterros eram conhecidos como “enterro de anjinhos”. Muita criança desnutrida, com carências alimentares diversas. Muita verminose, a esquistossomose matou muitos e deixou muitas seqüelas. Quase todos os partos eram em casa, feitos pelas Parteiras de saudosa memória.

 

A única fotografia existente da saudosa parteira Dona Maria Procópia, ao centro e já bem idosa

 

Dois grupos escolares, as primeiras e as outras professoras, os  porteiros escolares  e outros funcionários que tanto povoaram nossa infância, como Zé Rodrigues, Dona Alódia Correia, Juventino Valamiel (segundo grau só a partir da década de 50).

A Escola de Futebol do Sr. Orlando Lima, o Lambari, é uma lembrança fantástica, tirava muita criança da rua e de vícios, era uma escola de vida, e onde várias gerações pegaram apelidos que perduram até hoje, funcionou por muitos anos voluntariamente, sem ajuda financeira ou pagamento de ninguém. Toda minha geração tem enorme gratidão por Orlando Lima. Além de técnico de futebol era um bom jogador de damas, ensinava com paciência muita gente, principalmente jovens, a jogar damas.

Os castelos de fogos de artifício do Sr. Landulfo Linhares Perdigão também marcaram nossa infância, eram eventos maravilhosos e criativos montados principalmente na Praça São Sebastião, onde só havia o gramado e algumas árvores.

Três cinemas funcionavam na cidade, alguns grupos de teatro se apresentavam com freqüência, as horas dançantes no Industrial , os bailes do mesmo, do Alvinopolense e do Original animavam as noites, pois nada havia de televisão, esta só na década de 60. Os meses de Maria (Maio) muito concorridos e onde se começavam muitos namoros.

O Congado que era um espetáculo impressionante, que muito me marcou.

A bolacha de canela da Padaria do Modesto, a sopa de pão que Zé Pelanca e Deuzinho serviam no Bar do Darci, as balas de coco queimado “Confiança” da loja do Ernesto de Souza, o sorvete de ameixa da Charutaria de Zé Rodrigues, os canudos de Deco Broeiro, as broas de melado vendidas à beira do campo do Alvinopolense, tantos sabores maravilhosos que deveriam ser resgatados mesmo na memória da nossa geração.

Os carnavais de clube e de rua, com o perfume inesquecível do lança-perfumes da Rhodia.

As serenatas, costume maravilhoso que começou a desaparecer depois da revolução de 1964. A Ditadura Militar acabou com um costume tão lindo de nossa gente e de grande parte do Brasil.

 

Na primeira foto, um dos melhores Juvenis do AFC, treinado por Totó de Juca Nanato. O rosto do Didinho foi apagado por sua mãe, depois de sua morte em acidente. Presentes aí - Zé de Melo, Guela, Catatau, Rafael, eu, Ênio, Toni, Didinho e Hélio de Euclides, que hoje mora em New Jersei, é cidadão ameicano.

A Corporação Musical Santo Antônio, sempre presente em todas festas. Na foto abaixo em 1940.

 A Beneficência Popular, onde estudei datilografia, a Escola Agrícola do Sr. Luiz Kuhembecker (não tenho certeza da grafia).

Nossa ligação com o mundo era através das estações de radio principalmente do Rio de Janeiro, que chegavam até aqui com sinal muito forte. Também a revolução acabou com as estações de muita potência e cobertura nacional, incentivando as FM que têm alcance muito menor.

Primeira comunhão, fotografia feita defronte a Capela de Santo Antônio, demolida poucos anos depois, não se tem nenhuma fotografia da mesma. Em 1948.

Professora Dona Diva. Eu sou o quinto,

da esquerda para a direita, na fila da frente

Sem telefone, o Dr. Antônio Caetano Machado prestou grande serviço como rádio-amador, que exerceu por muitos anos.

 

Na década de 50 era  muito comum a utilização de táxis aéreos para Belo Horizonte, pois as passagens eram baratas, e curto o tempo de vôo. Outra opção seria a Estrada de Ferro Vitória-Minas, a gente saía daqui bem cedinho de jardineira (antigos ônibus), tomava café no Bar do Cornélio Figueiredo em Padre Pinto, pegava o trem em Rio Piracicaba e chegava às 19 ou 20  horas a Belo Horizonte, todo cheio de fuligem da Maria Fumaça...Por ônibus só passando por Barra Longa, Ponte Nova, Ouro Preto, era outra aventura. Valia nesta longa viagem o bom humor inesquecível de Zé Carvalho, motorista do ônibus por muitos anos e que deixou muita saudade.  Em tempo de chuva (e chovia muito) nem pensar, só se saia daqui de carro de boi ou a cavalo ou a pé. Lembrem-se que o asfalto para Rio Piracicaba foi inaugurado em 1982.

 

O Bar de sinuca do Nico Dario, sede de memoráveis domingos e noitadas de sinuca e bilhar (ao fundo funcionava o carteado, mas a gente nova não tinha acesso). As brigas de fim de semana, entre os brigões citam-se Zeca do Correio, Cháu (Schall), Antônio Neves, Zé Rezende de Oliveira, Bodão e Anecleto, que costumavam acabar com alguns bailes. As comunhões das primeiras sextas feiras, de Monsenhor Rafael E aquelas outras coisas da infância, que nos fizeram ser o que somos.

Algum escritor deveria tentar recuperar nossa história, que vai ficando perdida por não termos costume de cultivá-la.  

E os amigos e colegas de infância, muitos felizmente amigos até hoje.  E sempre o passar do tempo marcado pelos apitos da Fabril e pelos sinos da Matriz.

E através de meu pai o convívio com políticos realmente idealistas, que dedicaram muito a esta cidade, o Dr. Fritz (Frederico A.Álvares da Silva, Gerente da Cia. Fabril Mascarenhas) e o Dr. Mário França, que foram modelos do homem público ideal, honestos, de que tanto carecemos hoje em dia por este país. Ambos foram prefeito ou vice-prefeito por algumas gestões, suas ações deixaram marcas até hoje – Hospital, Posto de Saúde, Asilo, e outras mais. Outro grande Alvinopolense, amigo dos que citei e ainda vivo, o Dr. Antônio Caetano Machado participou de todos estes eventos também. Sugiro uma entrevista com ele... Enfim, são tantas lembranças que não caberiam numa entrevista. Talvez mexam com a vontade de alguém apto a descrevê-las em detalhes.

  Para visão um pouco mais abrangente anexo um trabalho que fiz há alguns anos “Da Pajelança à Medicina Baseada em Evidências”, no qual podemos ver com mais detalhes a história da Saúde em Alvinópolis.

Rui Barbosa já dizia – “Um povo sem história não é um povo sem passado, é um povo sem futuro”. Tenho a impressão de que nosso passado vai se perdendo na bruma do tempo.

Casa do Sr. Jose Rodrigues, Dona Marica, Ricardo, eu e Magda os que estao de pé.

Sentados Totó de Inhozito, Marcelo meu irmao, Fernando.

 

 

3- Em qual Universidade o senhor se formou? Em que ano? E porque escolheu a medicina?

 

Faculdade de Medicina de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Turma de 1964.

 Acho que escolhi a medicina porque perdemos a única irmã entre 8 irmãos, fato que foi extremamente doloroso para nós, deixa-me emocionado até hoje, e também porque convivi com minha avó materna durante anos, em sofrimento terrível por câncer incurável, eu ouvia seus gemidos dia e noite, dormia em quarto ao lado do dela. Minha avó morreu depois da minha irmã. Penso ser estes fatos que   orientaram minha escolha profissional, pois antes deles meu grande sonho era ser aviador (piloto de caça, de preferência...).

 

Rua de Cima - 1940

4- Quando chegou em Alvinópolis após o curso, o que encontrou na área de doenças infecto-contagiosas?

 

Muita verminose,  tuberculose, febre tifóide originada nos bairros onde esgoto corria a céu aberto. Gastrenterite muito freqüente e que causava óbitos ainda em números inaceitáveis. A varíola já estava controlada, mas a poliomielite não, era muito prevalente como em todo mundo. Sarampo em surtos violentos, difteria presente, muitos casos de hanseníase. Muita coqueluche, com sua tosse infindável. Muita caxumba, que às vezes “descia”. Rubéola era chamada de sarampinho.  Doença de Chagas muito comum. A Neurocisticercose (cistos de solitária no cérebro) ainda é a mais importante causa de convulsões em nosso meio, naquela época era pior. E muita verminose mesmo!


5 - Qual era a condição e a qualidade de vida do povo?

Hoje em dia as coisas mudaram?

 

A qualidade de vida era bastante pior do que hoje. Mudou  muito para melhor, como citado no conteúdo de outras respostas.

   

6-Quais os fatos mais relevantes que viu destacar para beneficiar a população?

 

Saneamento básico (água e esgoto). A iniciativa do então Prefeito Nilo Gomes Vieira, que urbanizou todo bairro do Asilo, doando e regularizando lotes dos moradores que construíssem em alvenaria, gerou um mutirão tão bonito entre os moradores que transformou todo bairro e erradicou a febre tifóide de Alvinópolis.

Idéia inovadora, a Prefeitura não dispunha de recursos, as pessoas se mobilizaram de maneira comovente, foi das coisas mais bonitas que já vi na área.

Antes, na gestão do Dr. José Guaraci de Vasconcelos, houve grande melhora no fornecimento de água e instalação de esgotos sanitários.

A construção do Hospital, do Lactário Stella Andrade e depois do Posto de Saúde, (ao lado na foto)

 

O primeiro Posto de Saúde, em 1961.

Na foto, Mauro, eu, um amigo de Porto Alegre

que veio visitar-me e Ênio Rodrigues.

 

 

        coordenados pelo Dr. Mário França, e com o apoio do Dr. Frederico Augusto Álvares da Silva (Dr. Fritz) melhoraram muito o padrão de alimentação, vacinações, e tratamento da população. Não esquecer o envolvimento da Sociedade São Vicente de Paulo, do meu tio Joaquim Vicentino Gomes, da Liga Monsenhor Horta, de muitos voluntários nessas obras.

Das Irmãs da Beneficência Popular e de outros funcionários no Hospital, de D. Marica de Zé Rodrigues, recém falecida, Micaré, Toni, Orlando Lima e outros funcionários do Posto de Saúde. Vale lembrar que toda documentação do Posto de Saúde foi queimada pelo Dr. José Milton da Silva ao assumir a Prefeitura de Alvinópolis. Nada restou da história do Posto.

E na área de educação o trabalho incrível de meu pai, José Faustino Gomes, ajudado por tantos professores voluntários, que conseguiu criar e manter a Escola Técnica de Comércio Professor Cândido Gomes, Deus sabe a que duras penas até ser estadualizada.  

A melhoria das estradas.

A Campanha do quilo da SSVP, exemplo de fome zero a custo zero para o Governo. O Asilo da SSVP. A Creche e o trabalho fantástico da nossa Irmã Helena Paiva.

A APAE de Alvinópolis, que presta benefícios a tantas famílias carentes.

 

7 - Qual a sua visão critica em relação à formação Médica atual?

Como era a graduação em sua época, e como ela está hoje?

 

Há Escolas de Medicina em excesso, muitas fundadas por exclusivo interesse comercial, sem a infra-estrutura necessária para boa formação médica.

Na minha época ainda não havia residência medica, hoje em dia praticamente todos alunos já se direcionam para especialização durante o curso de graduação, prejudicando um pouco a formação generalista.

Mas está ocorrendo reação saudável para as exigências atuais. A Medicina evolui muito, é impossível bom domínio de todas as áreas, de forma que a Especialização é uma tendência irreversível.

 

8 - Já vi algumas pessoas dizendo a frase - É DEUS NO CÉU e ZÉ SILVIO NA TERRA.

Uma pessoa que reclamou no mural do Alvinews, que o Dr.José Silvio olhou pra cara dele e receitou o remédio. Comigo isso também já aconteceu. Ele olhou pra mim e me disse o que eu tinha. E acertou.  Uma vez vim de BH pra me consultar com Zé Silvio. Acordei com um mal estar terrível, uma falta de força pra tudo. Fui me consultar e uma médica que disse que meu problema era cardíaco e que eu tinha grande chance de precisar de uma cirurgia. Fiquei mal. Mas resolvi descer pra Alvinópolis e me consultar com Zé Silvio, pra conferir. Eu relatei pra ele o acontecido, ele me examinou e me disse:

 - Você está é com uma infecção intestinal brava.

Me receitou alguns remédios e no outro dia eu já estava recuperado. Cada um tem um tipo de experiência. Sou um Alvinopolense que saio de BH pra consultar em Alvinópolis com o Dr.Zé Silvio. Isso se chama confiança. E a pergunta é a seguinte: Dr. José Silvio, o quanto existe de placebo na medicina que você pratica?

 

“Abaixo de Deus” é muita responsabilidade, não é?  Evidente que não me vejo assim tão poderoso. Sou um ser humano como qualquer outro, com muitos defeitos, alguma coisa boa, certamente sujeito a erros como todos. Gosto muito de minha profissão, da clínica mesmo, e tento fazer o melhor possível; vejo como a Ciência é falível, ainda há muito a se aprimorar não apenas na Medicina, mas em todas áreas do conhecimento.

Chamamos “efeito placebo” a sensação de melhora (ou de piora) de determinados sintomas que ocorrem por influência do nosso cérebro, da confiança ou da fé que depositamos no processo – pode ser uso de remédios, rezas, passes, benzeções etc. O “efeito placebo” é inerente a qualquer atividade terapêutica, e é mensurável. Cerca de 33,3% do resultado de qualquer consulta médica, de tratamentos, ou de benzeções ou sessões de cura ou descarrego ou outras é efeito placebo, para melhor ou para pior. Por isso os resultados imediatos de qualquer tratamento precisam ser vistos com cautela. É preciso esperar o julgamento final do grande Juiz, que é o fator tempo.  Porém há os 66,6% que dependem da competência. Por esta razão é uma tendência irreversível da Medicina usar critérios muito rígidos nas pesquisas, tentando afastar o efeito placebo nas diferentes intervenções e tratamentos medicamentosos. É a chamada Medicina Baseada em Evidências. 

Precisamos ter a humildade de reconhecer a falibilidade de qualquer ser humano, todo muito pode cometer enganos.

 

9 - Hoje as pessoas estão com os hábitos modificados, com a evolução do mundo, as doenças também evoluíram. Um médico precisa evoluir para sobreviver no mercado e aos novos remédios ou a experiência fala mais alto?

 

De fato, com a globalização e com a generalização da informática há tendência a se expandir muito o conhecimento das pessoas. As doenças também mudam, por exemplo o vírus da AIDS só foi identificado em 1980. O vírus da gripe aviária oriental, que está ameaçando o mundo, é de conhecimento recente. E os vírus possuem extraordinária capacidade de mutação, de modo que podemos esperar surpresas sempre, na área de doenças infecto-contagiosas. As graves questões ambientais ameaçando nosso frágil planeta geram condições novas para todos os seres vivos, inclusive nos micro-organismos. É claro que a experiência ajuda muito, assim como a intuição,em qualquer área da atividade humana, mas é imprescindível atualização contínua, agregando conhecimentos novos, e estar disposto a adaptação constante às novas realidades que surgem.

 

10 - Quais as características o senhor julga diferenciais em um bom médico?

 

O aprimoramento científico constante. A humildade de saber que não somos melhores que os outros, que não temos poder sobre a vida e sobre a morte, a respeitar o ser humano – em cada fase de sua vida – criança – adulto – idoso como um ser único que precisa ser reconhecido e tratado como único mesmo, pois nem gêmeos idênticos são iguais. E sentir que aquele ser que o procura está necessariamente em situação desagradável, que o humilha de certa forma, de grande angústia por si mesmo ou por um filho ou um pai ou mãe enfermos. Lembrar que em algum dia o próprio médico se verá nesta situação de paciente, e tentar se comunicar de verdade com o outro. Mesmo quando não existe cura, existe alívio, e se nada for possível, a solidariedade humana consola muito. Em resumo, aquele que trata  o próximo como se tratasse a si mesmo. Felizmente existem muitos médicos bons.

 

 

11 - Nos dias de hoje a medicina se preocupa muito mais com a prevenção de doenças.

Como isso pode ser feito por uma pessoa normal?

 

A prevenção de doenças em pessoa saudável chama-se prevenção primária. A prevenção dita secundária se refere a pessoas que já apresentam alguma doença. Para vocês terem uma idéia – o que mata mesmo no mundo inteiro, em maior quantidade, são doenças do coração (infarto, insuficiência cardíaca, paradas cardíacas), derrames cerebrais e diabete melito.

 

Pois bem, o diabete melito do adulto, chamado tipo II, pode ser evitado em grande porcentagem de casos, se a pessoa não abusa de açúcar durante a vida. As outras citadas são decorrentes de aterosclerose, doença dos vasos sanguíneos  que iniciam na infância, e que vão se manifestar muitas décadas depois. Dentre os fatores que a desencadeiam – fatores de risco - temos um grupo dos não modificáveis – a hereditariedade, e outros fatores que são modificáveis – FUMO, INGESTÃO EXCESSIVA DE GORDURAS DE ORIGEM ANIMAL, AÇÚCAR EM EXCESSO, SEDENTARISMO, OBESIDADE, USO ABUSIVO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS, SEXO INSEGURO, ISOLAMENTO SOCIAL E FAMILIAR, FALTA DE ATIVIDADE MENTAL, REAÇÃO INADEQUADA AO ESTRESSE.

 

Ou seja, todos fatores de risco dependentes do estilo de vida do indivíduo, que podem ser melhorados com estilo de vida saudável. A rigor, a prevenção primária deve ser iniciada na infância e se estender por toda vida. Lembremo-nos que um bom estilo de vida pode impedir os fatores hereditários de se manifestarem como doenças.

Há preocupação mundial com o custo das doenças crônico-degenerativas, que afetam muitos idosos, e destas doenças muitas são evitáveis através de estilo de vida saudável, tornando a velhice “bem sucedida” quanto à saúde.

O preço tão alto dos Planos de Saúde devem-se muito ao gasto com o tratamento dessas condições, que quase sempre são de alto custo. E a Previdência Social não tem como atender a todos que necessitam.

Isto vale não apenas em paises em desenvolvimento, mas também nos paises ricos.

Então não resta outra saída, senão a Prevenção.

Penso que as noções de “estilo de vida saudável” deveriam ser passadas em todos os níveis de escolarização, tal como se faz com Ecologia.  Nosso organismo nada mais é que uma extensão do meio ambiente para dentro do limite de nossa pele, estamos continuamente trocando substâncias com o meio externo.

Acho uma besteira a expressão “A Natureza é sua”.

Pelo contrário, nós é que somos da Natureza.

Penso que a prevenção primária pode ser resumida na expressão “seguir a lei de Deus”.

Costumo fazer uma comparação a meus pacientes – nossos dentes se parecem mais com os de vaca ou boi, ou de cabra, ou de carneiro. Assim também nossa química interna é toda ajustada para usarmos alimentos que venham da terra – legumes, verduras, frutas.  Completamente diferente da dentição de um leão, um cão, cuja química é ajustada para metabolizar e funcionar com carnes e proteínas animais. Ou seja, não é lei humana, mas a própria Lei da Natureza que deve reger nosso padrão alimentar.

É claro que não se proíbe um churrasco de vez em quando, ou uma feijoada, mas seguindo a pirâmide dos alimentos, ou seja, 1 vez por semana e não todos os dias.

 

12 - Qual a freqüência uma pessoa deve fazer um check-up nos dias de hoje?

Depende da idade?

 

Em geral o atendimento pediátrico de boa qualidade já é o começo. Recomenda-se hoje conhecer a pressão arterial, o colesterol, glicose, triglicérides das crianças em torno dos 10 anos de idade, verificando seus índices corporais (obesidade, desnutrição). Se normal, sem intercorrências, outra aos 18 anos.  O restante varia, por exemplo, mulheres em vida sexual ativa precisam fazer exame anual (Pappanicolau, prevenção de câncer de colo uterino). A partir de 40 anos as mulheres necessitam também fazer mamografia bianual ou anual, dependendo dos achados.

A partir dos 50, anualmente. Se tem risco na família, as vezes até de 6 em 6 meses. O homem, se tem risco na família, exame de próstata após 40 anos, e depois dos 50 se não tem risco nem sintomas. Nos homens saudáveis exames simples, principalmente medida da pressão arterial, devem ser rotina após os 30 anos, anualmente. Após os 40 também 1 exame anual é suficiente para pessoas assintomáticas. A partir dos 50 já entram em jogo outros exames preventivos, para pesquisar riscos de doenças específicas, tais como o sangue oculto nas fezes, exame barato, rastreador de lesões pré-cancerosas no intestino grosso, pesquisa de doenças de tireóide,  osteoporose e outras comuns ao envelhecimento, também anualmente. E outros exames a critério do médico assistente, conforme as tendências hereditárias, ambiente de trabalho, doenças prévias. Um bom médico assistente tem condições de orientar perfeitamente estas avaliações.

 

13 - Muitas pessoas hoje não dão o devido valor ao sono!

Qual a influência do sono para uma boa saúde?

 

A necessidade de sono varia um pouco entre as pessoas, e diminui um pouco com a idade, mas sono reparador é insubstituível para bom funcionamento de nosso sistema nervoso. Sua necessidade varia entre 6 e 9 horas em pessoas sadias. Porém existem pessoas saudáveis que dormem bem menos durante toda vida.

Procurar sempre meios naturais para que o sono seja de boa qualidade, evitar ao máximo medicamentos que possam causar dependência ou hábito. Há muito abuso de drogas para dormir, não sei se seu uso é pior que a má qualidade de sono. A má qualidade de sono é um sintoma, não uma doença, necessário se faz um diagnóstico para abordagem adequada, e não apenas tomar um “diazepan ou lexotan ou outras drogas”.

Às vezes mudanças simples como evitar estimulantes após as 18 horas (café, bebidas com cafeína (coca-cola, guaraná, etc), iluminação mais baixa possível e silencio aconchegante, melhora do colchão/travesseiro, banho morno e 1 copo de leite desnatado ao deitar, melhoram muito o sono. Os chás calmantes também são úteis para alguns. Se for parceiro (a) de roncador providenciar seu tratamento ou mudar de quarto...

 

14 -  Praticar esportes muitas vezes ajuda na prevenção de doenças.

Quais as dicas para quem é sedentário e não consegue enxergar os benefícios do esporte?

 

A atividade física melhora a pressão, o coração, a circulação, os pulmões, a musculatura, os ossos se fortalecem (evita osteoporose), ajuda a baixar os níveis de colesterol e de açúcar do sangue, melhora o estado geral do espírito – melhora o astral enfim, reduz muito a depressão. Estes objetivos podem ser alcançados com atividades bem simples, como caminhar, dançar, pedalar, nadar (para quem gosta) e a pratica de esportes para quem tem condição.

Caminhada é tão boa como corrida, apenas deve ser suficientemente rápida para acelerar os batimentos cardíacos até um nível mínimo que varia com a idade e a condição física do individuo. Tempo ideal entre 30 a 60 minutos por dia, pelo menos 5 vezes por semana. Este efeito pode ser cumulativo, por exemplo se você andar 30 minutos de manhã e 30 à noite o beneficio será o mesmo que andar 60 minutos de 1 só vez no dia.  

Conciliar atividades da vida diária – ir a pé para o trabalho, acelerar o passo quando se vai às compras, ou à Escola, subir escadas ao invés de usar o elevador, e por aí.

 

15 - O senhor é um praticante assíduo de esportes. Me lembro bem do tempo em que você atravessava nadando da praia de Piúma até a Ilha dos Cabritos,  além de participar de corridas como a Volta da Pampullha, entre outras. Quais os benefícios o esporte trouxe para sua vida?

 

Desde criança eu gosto muito de correr, pois tinha um cachorro muito bravo chamado Peri, que obedecia só a mim e eu tinha que acompanhá-lo acorrentado por longas corridas noturnas.

Joguei futebol no Alvinopolense (comecei no Lambari de Orlando Lima, passei para o juvenil do AFC e cheguei a titular por breve tempo), mas sempre muito ruim de bola. Estive 5 anos e meio no Exército, em Porto Alegre, onde praticava esporte todos os dias para escapar da Ordem Unida (marcha, etc). Ao voltar a Alvinópolis joguei por 5 anos no cascudo do AFC e depois passei para o Veterano.

Tivemos um time de vôlei por uns 7 anos, só de ganhar de Dom Silvério valia a pena (eu jogava porque tinha uma caravan que cabia o time, não por altura ou competência, claro).

Time de voley na quadra ao lado da Casa Paroquial, onde funcionava o Colégio - Luizinho de Oliveira, Repolês, um sobrinho de Dona Judith que morava em Leopoldina, Luizinho de Dodô, eu e Pepê de Nilo

 

 

Nadava bastante, mas apenas como lazer, sem competir. Andei muito de bicicleta. Parei com futebol por lesão no joelho direito, mas continuei jogando peteca, nadando e correndo em rua. Rompi tendão no ombro tive de parar com peteca. Agora faço apenas corrida leve.

Das 8 voltas da Pampulha cheguei em 7, só não participei de uma, e das edições da meia maratona de Belo Horizonte, que antecederam a volta da Pampulha, só não corri uma. Já corri uma meia maratona do Rio de Janeiro. Gosto muito da Piramon, este ano não pude participar.

Se trouxe benefícios para minha saúde na verdade só o tempo dirá, pois agora estou próximo dos 70 anos, mas para mim o prazer da atividade física já é recompensa suficiente.

 

16 – Os Veteranos de Alvinópolis foram, por um bom tempo, o encontro das famílias alvinopolenses com o esporte. Os filhos sempre acompanhavam os pais nas viagens para os jogos. Hoje em dia existe um trabalho visando recuperar essa entidade.

O que mais te marcou nesses tempos?

Lembra de casos engraçados que possa nos contar?

É verdade que você foi chamado para fazer um diagnóstico de “Miau” durante uma partida e o resultado foi que ele estava com fome?

 

Veteranos : Em pé : Noé, Ary, Dico Lavanca, Danilo, Zé Nenen, Zezinho, Ze Niquinho, Tutuca.

Agachados : Magela, Zé Sylvio, René,Xandoco, Bizzorro,

Sílvio Nicolau e Comodoro.

Resultado dos primeiros meses de atividade do veterano - Zé Geraldo quebgou a perna, Narciso e Gustavo quebraram o antebraço.

 

Realmente foi época maravilhosa. Tenho inúmeras fotografias e alguns filmes. Estou ajudando e torcendo para reorganizarmos o SEVA. Têm alguns casos incríveis.

Num jogo com o Pimenta, campo do AFC, a bola caiu na enxurrada, todo mundo caiu e a mesma foi levada além da linha do goal, lentamente, e o gol valeu. Questionado de quem seria o goal, o juiz confirmou – da chuva. Com o mesmo time, no campo de lá, a bola caiu em cima do bambuzal e o jogo ficou parado por 45 minutos até conseguirem tirar a bola.

Num jogo difícil, pela Liga, nosso Goleiro Zé de Tia Elza defendeu um pênalti com os pés. O zagueiro Aurélio agarrou o goleiro, comemorando e gritando, sem ver que o lateral deles chutou de volta e a bola entrou devagarzinho no canto, com o goleiro gritando “me larga”, “ME LARGA” e o Aurélio não o largou mesmo, estava de costas para o campo. Isto aos 44 do segundo tempo, perdemos por 2 x 1.

Num jogo em João Monlevade precisei de um curativo no intervalo, não tinha esparadrapo, nem gazinha, nada, então alguém se lembrou que o Zé de Niquinho sempre anda com camisinha no bolso e não deu outra, joguei com preservativo no dedão do pé esquerdo o segundo tempo todo.

Tem um filme do Veterano com Major Ezequiel, mostrando o Dadico dando uma “gaúcha” numa égua que entrou correndo pelo campo. E tantas outras mais. Felizmente está ocorrendo um movimento saudável de revigorar o SEVA, já compraram até instrumentos para sua banda.

A história do Miau é verídica, a causa do desmaio foi fome mesmo.

 

17 - Quais os conselhos o senhor daria para se ter uma vida saudável ? 

  • Alimentação equilibrada, com pouco açúcar, pouca gordura de origem animal, pouca carne vermelha,não esquecendo que o leite é muito gorduroso, deve-se preferir leite e laticínios desnatados.  

  • Uso de muitas verduras, legumes e frutas frescas.

  • Atividade física regular, conforme referido em outra pergunta, e de preferência ao ar livre, evite excesso de sol, use protetor solar.

  • Manter peso corporal em nível adequado, evitando obesidade ou peso muito baixo, ambos nocivos à saúde.

  • Evitar fumo, abuso de álcool, de outras drogas ilícitas.

  • Sexo seguro.

  • Trabalhar no que lhe dá prazer.

  • Equilíbrio entre tempo de trabalho e de lazer.

  • Viver entre pessoas que você ama e te amam.

  • Dedique-se à família, esta então é fundamental.

  • Saber conviver com o estresse, que é inevitável.

  • Atividade mental sempre, tal como o físico nosso cérebro precisa exercitar-se continuamente.

18 - Muitas pessoas estão obcecadas pelo corpo hoje em dia.

Muitas tomam remédios para se manterem de acordo com as regras da sociedade do culto ao corpo.

Esses remédios para emagrecimento são perigosos? Quais os benefícios e malefícios?

Quase todos moderadores de apetite têm efeitos colaterais que podem se tornar graves, como alterações de comportamento e lesões nas válvulas cardíacas. Todos os produtos associados de manipulação para emagrecer, tão comuns no passado, estão proibidos pelo Conselho Federal de Medicina, o médico que receitá-los comete infração ética. Existem contudo alguns antidepressivos que têm bom efeito  moderar o apetite, e alguns moderadores que podem ser usados, sempre sob supervisão médica. Devem ser indicados por Endocrinologista ou Médico habituados com seu uso. A obesidade é um problema muito sério, ainda não resolvido satisfatoriamente pela Medicina. Uma prova disso é o aumento das cirurgias bariátricas, ou seja, cirurgias de redução do estômago com função de emagrecimento corporal. Os bons resultados nunca dependem só de remédios, mas também de associar mudança de estilo de vida, principalmente hábitos alimentares saudáveis e atividade física regular.

 

Por outro lado o emagrecimento exagerado é mais perigoso que a obesidade. Não quer dizer que o magro é doente, há magros muito saudáveis, refiro-me à perda de peso provocada por drogas, bulimia, etc.

 

19 - A auto-medicação é uma tradição brasileira. O que o senhor pensa a  respeito?

 

Não pode ser saudável, salvo para pequenos problemas – uma dor de cabeça, febre, dores musculares, tudo de origem passageira, alguns dias. Se mais crônicos precisam ser diagnosticados. Nem o melhor médico do mundo é um bom médico de si mesmo. Imagina o leigo...

 

 

 20 - Nos tempos de hoje, o SUS(Sistema Único de Saúde) não oferece condição para os médicos realizarem um trabalho de qualidade.

Você vê alguma saída para um hospital se manter bem estruturado?

 

Em algumas áreas o atendimento é muito bom, por exemplo, em Nefrologia (hemodiálise), no tratamento da AIDS, os esquemas de vacinação. Os Hemocentros funcionam muito bem. São programas já implantados há algum tempo. Se não houvesse remuneração adequada para a Hemodiálise, ela não seria tão disponível. Mas no geral os valores pagos pelos atendimentos são ridículos, desestimulam qualquer profissional de saúde. Por exemplo, consulta médica por R$ 3,00. Os valores das diárias e procedimentos hospitalares são absolutamente ridículos.

 

Todos os Hospitais cujo faturamento dependa do SUS em mais de 50% são economicamente inviáveis, dados válidos para todo país. Os valores repassados pelo SUS, não corrigidos há décadas, quebram qualquer Hospital. O nosso, por exemplo, é inviável nas condições atuais, seu faturamento é 80% SUS. O mesmo se diga de Dom Silvério, Nova Era e por aí vai. O Estado de Minas publicou há uns 2 meses uma série de reportagens que esclarecem bem o assunto. Uma saída provisória seria um bom entendimento entre as forças políticas locais, no que tange ao Setor de Saúde Pública.  O que infelizmente não acontece, não apenas em Alvinópolis, mas pelo país afora. Saúde Pública no Brasil é usada como instrumento de política partidária, não como instrumento de política de saúde. Não existe continuidade, sai um gestor ou dirigente entra outro e muda tudo...Infelizmente percebe-se tendência política dentro do próprio Hospital, em choque com a Prefeitura, assim quem devia ser parceiro torna-se adversário e fica muito difícil a sobrevivência da Instituição. Vemos diariamente pacientes daqui se deslocarem para Ponte Nova, a fazer exames de laboratório e de ultra-sonografia para os quais nosso Hospital é capacitado. Imaginem a perda de tempo das pessoas, o gasto com transporte, que talvez superem o custo dos exames...

 

21 – O Programa de Saúde da Família é uma boa alternativa para melhorar o atendimento ao povo?

 

A idéia do PSF é muito boa, sua proposta de trabalho é excelente, baseada na PREVENÇÃO e em alguns locais funciona bem. Seria uma boa alternativa se cumprisse essas metas. Acontece que o regime de trabalho dos profissionais não lhes dá estabilidade alguma, e embora os salários sejam atraentes há enorme dificuldade em conseguir bons profissionais, e principalmente em fixá-los nas localidades. E há grande ingerência política em seu dia a dia, desvirtuando os objetivos que deveriam nortear seu trabalho. Se isso não mudar permanece a enorme rotatividade de profissionais e a perda de continuidade de atuação.

 

 

22 - E a saúde em Alvinópolis no momento? Tem tido o suporte ideal por parte da atual administração?

 

No presente não estou ligado à direção do Hospital, não tenho procuração para defendê-lo. Mas vejo com angústia que existe conflito entre a direção do Hospital e a Prefeitura, o que apenas dificulta o funcionamento do mesmo, em prejuízo do atendimento aos que mais precisam. A Prefeitura tem dado algum suporte financeiro, mas não é apenas o dinheiro, há muitas outras coisas que poderiam melhorar.  Acho também inviável a Prefeitura montar um Serviço seu, fica muito caro. Quem segura mesmo a barra dos atendimentos de Urgência vai ser sempre o Hospital, mesmo que os PSFs funcionem bem. E é uma atividade deficitária, como já vimos. Se uma determinada coletividade quer um bom atendimento de urgência deve pelo menos remunerar bem o Profissional de Saúde e a entidade que o presta. Tudo isto deveria ser  discutido pela comunidade, que é o paciente, o Poder Público, incluindo aqui a Câmara Municipal, os serviços e Profissionais envolvidos. Esta é a idéia dos Conselhos Municipais de Saúde, fórum ideal para se discutir a problemática referida. 

Pois bem, estou clinicando em Alvinópolis há 42 anos e meio, jamais fui convidado para uma reunião do referido Conselho, mesmo quando era Chefe do Centro de Saúde do Estado, ou Diretor Clínico do Hospital.

 

 

    Nunca fui convidado a uma reunião!!! Na verdade no momento nem sei se existe o Conselho Municipal de Saúde, quais são seus membros, acho que devemos forçar seu funcionamento para não ficarmos discutindo eternamente em circuitos improdutivos. E a atividade de Conselho Municipal de Saúde é exigência legal, não sei como surgem as atas de suas reuniões.

Hospital no ano de 1973

 

23 – Que equipamentos o Hospital Nossa Senhora de Lourdes precisaria adquirir  para prestar um serviço de boa qualidade para a população?

 

Vários, como respiradores, bombas de infusão, oxímetros digitais,diversos medicamentos de pronto-socorro que não temos condições de adquirir, e não apenas equipamentos e instrumentos mas também melhora da remuneração do pessoal, mais contratações, melhoria física de instalações, principalmente para atendimento ao idoso, melhora da capacidade do laboratório de análises clínicas. Acontece que a capacidade de investimento está a zero, conforme  documentações pertinentes – balanços, balancetes, à disposição de quem quiser examinar. Para vocês terem uma idéia, não há sequer um fundo de depreciação para os equipamentos em uso. E recursos financeiros para remunerar bem seus funcionários e plantonistas.

 

24 - O que acha da presença da COPASA em nossa cidade?

Acho excelente, a água de boa qualidade é mesmo cara, temos que nos conscientizar e fazer uso muito criterioso da água. É um tema do momento em todo mundo, e infelizmente o ser humano só cumpre o que pesa no bolso, ou seja, só passa a economizar quando a coisa ficar cara.É uma questão de sobrevivência da Humanidade, precisamos nos preparar para enfrentar a escassez de água potável. Que sirva de pretexto para meditarmos, estudarmos e fazer o melhor por este planeta tão agredido, tão frágil, que chega a ameaçar a existência de nossa espécie. Não apenas quanto a água, mas a outras formas de energia que não deveríamos desperdiçar, nem usar de forma não ecologicamente correta. Não nos esqueçamos eu mais de metade do nosso peso corporal é água...

 

 

25 – O senhor acha que houve melhoras em Alvinópolis, no sentido de uma maior consciência da população, em questões como uso de contraceptivos, controle de natalidade, obesidade, doenças do coração, doenças endêmicas. Como o senhor avalia a educação da população para a saúde?

Vejo com preocupação este tema. Tenho feito inúmeros partos de adolescentes absolutamente despreparadas, nos últimos anos. Falta mesmo uma política de conscientização, parece que agora o Governo Federal está começando algo a respeito. Mas precisa chegar à Escola. Não é apenas distribuir camisinhas, anticoncepcionais e tabelinhas que vai resolver. Tem que por alguma coisa na cabeça dos adolescentes, melhor conhecimento, mais responsabilidade. E especialmente as famílias deveriam cumprir este papel, não esperar tudo da escola. No que toca à obesidade vejo carência de informação nutricional generalizada.

A tradicional comida mineira é um horror de calórica e hipercolesterolemiante. Precisamos de mais informação nutricional nas escolas e nos PSF. Até pouco tempo atrás não existia Nutricionista na cidade. Quanto às doenças do coração há crescente preocupação das pessoas, e melhora da conscientização de que muitas delas são evitáveis ou controláveis.

Morre-se muito menos agora de doenças cardíacas do que há 20 anos, mas ainda é disparada a maior causa de mortalidade não só em Alvinópolis mas no Brasil e no Mundo todo. Todos tememos o câncer, mas quem segue matando mais é o coração, por muitas causas evitáveis.

Quanto às doenças endêmicas vi grandes melhoras nas últimas décadas.

A doença de Chagas quase desapareceu, a esquistosomose diminuiu muito em suas formas graves de alguns anos atrás, credito isto a maior informação das pessoas – todas nossas águas são poluídas/contaminadas até prova em contrário, assim devemos ensinar a nossos jovens.

Tuberculose com grande diminuição, hanseníase quase desapareceu. A Vigilância Sanitária/Epidemiológica continua trabalho constante. A Educação da população para a saúde pode  ser melhor.

 

26 - Como foi a sua relação com a bossa nova.

Morei em Porto Alegre até 1964, e o João Gilberto estudava harmonia com um vizinho, Prof. Armando Albuquerque, na época Diretor da Rádio da UFRGS. Na casa do Sr. Armando conheci João Gilberto, antes de seu sucesso nacional, e foi um choque na minha visão de MPB. A partir daí acompanhei o movimento e acompanho até hoje, pois foi um marco na história de nossa riquíssima MPB. Seu grande lance a meu ver foi a harmonia, com a introdução de dissonâncias, e um cantar mais comum, sem precisar dos vozeirões que a gente costumava ouvir, inacessíveis a nós,  meros cantores de banheiro.

Zé Sylvio, Tião do Major e Tuca em almoço coma a presença de Altamiro Carrilho - Pedacinho do Céu - Belo Horizonte

 Praca Bias Fortes - Zé Sylvio, Dedé, Zizi, Zezito de Quinzinho, Lourenço e Mauro, meu irmão.

 

 

27 - É verdade que chegou a conhecer João Gilberto.

Quais os maiores músicos e compositores com os quais você conviveu ou conheceu.

 

O Maestro Armando Albuquerque, compositor modernista e pianista, que ouvi por uns 6 anos, pois seu piano ficava separado do meu quarto apenas por uma parede de casa geminada na Rua Lopo Gonçalves, Porto Alegre; João Gilberto morou em Porto Alegre, conheci-o em 1960, na casa do Prof. Armando; a 400 m da minha casa ficava a Churrascaria Gato Preto, do Lupicínio Rodrigues, que tive oportunidade de ouvir várias vezes. Paulinho Nogueira também conheci em Porto Alegre. Paulo César Pinheiro, em Belo Horizonte No Rio estive por 2 vezes no Politheama, onde nos encontramos com o Chico Buarque. O MPB4, o Quarteto em Cy, Silvio César, no Rio de Janeiro também, através do meu irmão Mauricio (grande percussionista e sambista), todos eles. Altamiro Carrilho, Waldir Silva, Ausier do cavaquinho, dono do Pedacinho do Céu, todos em BH.  

28 - E quais os músicos de Alvinópolis você conheceu pessoalmente e o que tem a dizer sobre eles.

 

Totó Faria, de cuja casa vieram os sons que marcaram e formataram meu gosto musical, quando eu tinha entre 3 a 5 anos morei defronte a sua casa, na rua de Cima, e dele guardo um flautim de ébano, perfeito e tocando, doado a mim por seu filho Nego; na sua casa havia roda de choro e samba todos os domingos; meu sogro Pedro Paulo, grande trombonista, bombardinista e compositor, além de boêmio inveterado; todos os músicos da Banda Musical Santo Antonio daquela época, não dá pra citar todos, mas tanto eu acompanhava os ensaios e as viagens da Banda que o maestro Zózimo compôs um dobrado que tem o meu nome, é do repertório da Banda Santo Antônio. Som de Banda de Música emociona-me demais até hoje, e vai continuar sempre assim, pois gravaram isso no meu hd aos 3 ou 4 anos de idade...

O grande, inesquecível Babucho, dos melhores seres humanos que conheci, que levou-me a acompanhar as primeiras serenatas pelas madrugadas de Alvinópolis, com seu cavaquinho e violão, e um bom humor inexcedível. Saudade eterna.

Na foto, Tutuia e Babucho em um jogo do Veterano..

Tião do Major, uma outra presença eterna em minha lembrança, grande violonista do Major, músico excepcional, educação fina.

Tuca, Argental Lucas Borges, cujo violão de 7 cordas está comigo, doado por sua família, jamais se recusava a tocar, fosse que dia fosse. Jorge Andrade, Jorginho de Sem Peixe, que trouxe do Rio para nossa casa o melhor do samba carioca, no final da década de 60 e nos dá o prazer de convivência até hoje.

Anzulinho do Cavaco, também conhecido por Afonsinho. Os irmãos Trindade que sempre foram muito bons.

Dosa de Ridamar, cantor e violonista, Tutuia do pandeiro, Zé Luiz de Carvalho,, Zé Grande (de Ouro Preto), grande flautista, Antônio Drumond e Júlio Papa, bons trompetistas; Darci, saxofonista; Bastião de Tereza e Nhonhô do Major, companheiros de tantas noitadas inesquecíveis. Dona Ritinha de Darci, voz mais afinada da cidade, Nenzinha, Darquinha, Marica de Hugo, Naná (falecida), Vevé, Zinha e Toni Morais, do coral da seresta. As bandas "Os Morcegos" e "007", que muito animaram os bailes.

Pepê de Nilo,   violonista, Marquinho Flores,   cavaquinho profissional hoje em dia. Binha, que não foge da tradição musical da família. Ângelo e Butijão na percussão. 

Da turma nova o brilho de Marcos, de Rogério, que seguem a tradição da família em nível mais alto e mais moderno.

O inesquecível Verde Terra.

A Márcia Prímola que está numa fase artistica esplendorosa e pode representar nossa terra em qualquer lugar.

Lulute e Adriano, excelentes músicos. 

Estou sendo injusto com outros  novos valores que admiro mas não tenho   acompanhado seu trabalho, a eles  peço desculpas.

Zé Zylvio, Chico Buarque e Tereza Cristina Zé Luiz,TIão do Major,Zé Sylvio, Nelson Gonçalves,Tuca

 

29  – O Festival da Canção de Alvinópolis sempre foi marcado pela revelação de bons músicos. Os bares da nossa terra sempre foram recheados de pessoas tocando violão, etc. A música perdeu espaço em Alvinópolis?

 

Os eventos musicais são conseqüentes a eventos econômicos e a atitudes de política cultural. Sem investimento econômico, patrocínio, que por sua vez vêm de política cultural não há como ter bons Festivais.  Sem patrocínio nada funciona. Acho que a música não perdeu espaço, nem perderá nunca. Música é alguma coisa sublime que nos leva a tocar por puro deleite, mesmo sem ganhar nada. Tem muita gente nova fazendo música de boa qualidade na nossa terra.

 

30 - Que dicas você daria para que o festival voltasse aos bons tempos?

 

Política cultural adequada por parte da Prefeitura, o que certamente traria investimento financeiro - patrocínios.

 

31 - Já sabemos que a Caneta do médico é muito pesada quando se refere a política, por isso muito deles tem se ingressado nessa área e feito bons trabalhos. O senhor já pensou nesta hipótese?  Se não, qual o motivo?

 

Não, nunca pensei. Jamais vi potencial de voto em minha caneta. O motivo principal creio é quando ainda muito jovem, ver meu pai humilhado por questões políticas, por ser ruim de voto, nesta cidade que ele tanto amava e para a qual dedicou grande parte de sua vida. Outro obstáculo é que meu trabalho absorve tempo demasiado, não teria como dedicar-me a outra área. Porém sinto algum desconforto por não ter me envolvido em política. É um exercício de cidadania que precisamos fazer.

 

32 - Qual a sua opinião sobre o governo Lula. Acha que houve avanços na medicina?

  Acho que está dando certo por circunstâncias econômicas mundiais e por seguir o seu antecessor em Política Econômica.  Ainda estou para ver qualquer plano de governo, qualquer projeto a longo prazo, que não seja a permanência no poder. Na área de Saúde o que vem funcionando bem é coisa mais antiga, de governos anteriores. Até agora não vi nada de novo. O atual e recente Ministro da Saúde é um técnico,Sanitarista, vamos aguardar um pouco para ver se melhora alguma coisa.

 

33 - E o governo Aécio?Tem sido um bom governo no que diz respeito à saúde?

Estou aposentado há muitos anos em meu cargo Estadual. Na Área de Saúde, afastado de cargos públicos há alguns anos, e isto dificulta minha avaliação.

 

34 - Qual a sua leitura sobre o atual quadro político de Alvinópolis? O senhor acha que a rivalidade de partidos escurece a visão dos políticos para o  bem maior, a melhoria de Alvinópolis?

 

Não tenho as informações necessárias para uma avaliação. A rivalidade partidária com certeza escurece a visão para o verdadeiro bem público.

 

35  - O que você acha que precisa melhorar?

Acredito que estamos muito omissos como cidadãos, é preciso cobrar mais das autoridades que elegemos, não ficar esperando que as coisas aconteçam. Precisamos participar mais, nos organizar, senão como fazer pressão junto às autoridades?

 

36 - Já considerou a possibilidade de se candidatar a Prefeito de Alvinópolis?

Não, como já mencionei antes não disponho de tempo e também não creio que tenha qualidades suficientes.

 

37 - Se fosse o prefeito, qual seria a sua prioridade zero?

Transparência de todos os atos, respeitar os direitos dos cidadãos e exigir deles sua quota de colaboração na melhoria da nossa qualidade de vida.

 

38 - Valeu à pena  vir trabalhar em Alvinópolis?

Claro que sim,  senão não estaria mais aqui. Valeu por este povo trabalhador, simples e bom. São tantas pessoas  maravilhosas, estou sempre aprendendo  com elas. 

 

Bernadete, Zé Sylvio e Dona Maria Turrer Rodrigues  - 1968

39 – Que mensagem o senhor deixaria para quem deseja seguir a carreira de médico?

Estudar muito,  muita humildade, disposição para estudar pelo resto da vida. Hipócrates já dizia – “A arte é longa, a vida é breve e a experiência é difícil”.

Muito obrigado. Desculpem o atraso nas respostas, mas passei um período complicado em função de cursos. Saudações Alvinopolenses.

Estou enviando também um trabalho feito há alguns anos, com algumas referências históricas mais completas, resgatando outros nomes ligados à Saúde em Alvinópolis.

José Sylvio

Meu E-Mail  jsb@robynet.com.br

Av. Magalhães Pinto, 179

Alvinópolis, MG

Cep 35950.000


Obrigado
.

 

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Medicina do Medo  - Fila, burocrata e revolta fazem o nosso dia-a-dia

Da Pajelança à Medicina baseada em evidências - Visão panorâmica da Saúde no Município de Alvinópolis.

Geriatria - Relatório de visita técnica - Hospital Nossa Senhora de Lourdes

Como combater a velhice

 

 

 

 

 Colaboradores da entrevista: Juninho Souza, Nilo Gomes Vieira, Marcos Martino, Geovanio Pereira, Guilherme Pontes e outros que não quiseram se identificar.

A todos, o nosso muito obrigado.

 

 

 

 

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